O Leão e a Ovelha
E eu chorava muito, porque ninguém fora achado digno de abrir o
livro, nem de o ler, nem de olhar para ele. E disse-me um dos anciãos: Não
chores; eis aqui o Leão da tribo de Judá, a Raiz de Davi, que venceu para abrir
o livro e desatar os seus sete selos. E olhei, e eis que estava no meio do
trono e dos quatro animais viventes e entre os anciãos um Cordeiro, como
havendo sido morto... Ap 5.4-6.
Esta visão do apóstolo João contém revelações surpreendentes e
profundas dos mistérios do evangelho de Jesus. João se angustia e chora ao
perceber que mesmo nas regiões celestiais parecia não haver quem pudesse abrir
o livro selado. Porém, um ancião lhe anuncia que o Leão da tribo de Judá, a
Raiz de Davi, havia vencido para abrir o livro.
Ao procurar pelo Leão, João vê
o Cordeiro no trono, com marcas de quem tinha morrido, isto é, marcas de
sofrimento e feridas de morte. Esta revelação refere-se à encarnação de Jesus,
que mesmo sendo Deus, o Leão, tomou a natureza humana, do cordeiro, para
sacrificar-se em nosso lugar. Apesar de Cordeiro com marcas de feridas de morte
ele não deixou de ser o Leão da tribo de Judá.
O livro selado
Naquele tempo, quando alguém vendia uma propriedade, por exemplo,
o contrato era acertado entre as partes que assinavam o documento. Este era
enrolado e selado, na presença de testemunhas, passando a pertencer ao novo
proprietário. Somente o proprietário teria direito de abrir os selos do
documento (rolo ou livro), pois, detinha o direito sobre ele.
Direito de abrir o livro
Sabemos pela Bíblia que Adão cedeu seus direitos de administrador
da terra (o "documento" que autorizava seu domínio sobre a terra) a
Satanás por causa do pecado. A partir de então, ninguém mais poderia “abrir os
selos” do livro que confere direitos sobre a humanidade e a criação, a não ser
que o adquirisse legalmente, alguém o comprasse por alto preço. Jesus pagou com
a vida ao verter seu sangue sem pecado. Um Cordeiro puro em sacrifício. Jesus
uniu o divino e o humano em sua natureza. Por isso, como Cordeiro, apesar de
ser Leão, ele pode abrir o livro. Ele é o novo proprietário; aquele que
adquiriu direito legal sobre a humanidade e a Criação.
Um leão que habita com
ovelhas
O Espírito Santo vem habitar em nós quando recebemos a Jesus como
nosso Salvador e Senhor. O trabalho do Espírito de Deus é gerar Jesus em nós:
até que Cristo seja formado em vós, Gálatas 4.19.
Ora, nossa natureza humana, caída e frágil é figura da ovelha.
Davi escreveu o Salmo 23 colocando-se na perspectiva de uma ovelha diante de
seu pastor. A ovelha precisa de condução, cuidado, proteção, renovação de
forças, pois está sujeita à tentação, injustiças, erros e sofrimentos. A ovelha
tem muitos predadores e, às vezes, é oferecida em sacrifício.
O Leão, por sua vez, é figura de Deus, Oséias 5.14; 11.10, da
realeza, da força, da justiça, da autoridade, coragem, confiança, digno de todo
o domínio, poder, honra e glória.
Isto indica que, apesar de sermos “ovelhas”, apesar da fragilidade
de nossa natureza humana, em nós habita o Leão da tribo de Judá, a realeza
divina, aquele que tem força, autoridade e direito legal sobre as nossas vidas.
Esta verdade é confirmada pelo profeta Isaías 11.6,7 E morará o
lobo com o cordeiro, e o leopardo com o cabrito se deitará, e o bezerro, e o
filho de leão, e a nédia (de pele lustrosa por efeito de gordura) ovelha
viverão juntos, e um menino pequeno os guiará. A vaca e a ursa pastarão juntas,
e seus filhos juntos se deitarão; e o leão comerá palha como o boi.
O Leão tornou-se
cordeiro para que possamos habitar com o Leão
2 Coríntios 8:9 porque já sabeis a graça de nosso Senhor Jesus
Cristo, que, sendo rico (Leão), por amor de vós se fez pobre (Cordeiro), para
que, pela sua pobreza (sacrifício do Cordeiro), enriquecêsseis (a ressurreição,
a vida do Leão em nós).
Neste aspecto, esta é a nova vida que Deus nos dá: a íntima
convivência de nossa fragilidade, instransponível por nossas próprias forças,
com o poder ilimitado da nova vida divina que habita em nós pelo Espírito de
Deus que nos edifica com seu poder e a sua Palavra: Gl 2.20 Já estou
crucificado com Cristo; e vivo, não mais eu, mas Cristo vive em mim; 2Co 5.17
Assim que, se alguém está em Cristo, nova criatura é: as coisas velhas já
passaram; eis que tudo se fez novo.
Ândrocles e o leão
Ândrocles era escravo de um romano. Um dia resolveu fugir. Se
fosse encontrado seria condenado à morte. Sendo assim correu desesperado para o
meio da floresta buscando um refúgio. Viu uma caverna e aproximou-se na
esperança de descansar. Porém, na porta da caverna estava um leão deitado.
Ândrocles voltou atrás rapidamente notando que o leão somente olhou para ele,
mas continuou deitado. Ora, não era o comportamento normal de um leão. Por
isto, Ândrocles concluiu que o leão estava doente. Resolveu voltar e descobriu
que o leão estava ferido na perna.
Ândrocles rasgou parte se suas vestes e começou a limpar o
ferimento, retirando pedaços de madeira, cobriu a ferida com o pano e entrou na
caverna para dormir, seguro que o leão não lhe faria nenhum mal. Após um tempo
acordou somente para perceber que lá fora caía uma forte chuva e que o leão
entrou para dormir ao seu lado.
Dias se passaram e Ândrocles trazia água e caça para o leão, que
aos poucos foi se recuperando. Ambos usavam o mesmo refúgio e uma grande
amizade nasceu entre os dois.
Um dia Ândrocles estava à beira do rio e sentiu uma lança em seu
pescoço. Foi capturado por caçadores de escravos, levado para a cidade e preso
debaixo de uma arena onde escravos eram condenados à morte, jogados às feras
diante da multidão ávida pelo espetáculo de morte. Ândrocles sentia saudades de
seu amigo leão.
O dia de sua morte chegou. Ele seria lançado às feras. Colocaram
Ândrocles no meio da arena sob os gritos da multidão. Do outro lado um portão
se abriu: um leão faminto foi solto e fustigado por soldados, para ficar bem
raivoso. O leão, ao ver Ândrocles no meio da arena, começou a correr em sua
direção. Sem armas, Ândrocles posicionou-se para lutar com as mãos até morrer.
O leão pulou sobre ele derrubando-o. Ândrocles fechou os olhos aguardando o
fatal cravar dos dentes afiados.
Mas, ainda de olhos fechados, sentiu algo quente, áspero e úmido
passar pelo seu pescoço e subir pelo rosto várias vezes. Ao abrir os olhos
reconheceu o seu amigo leão que havia deixado na caverna no dia em que foi
preso.
A multidão silenciou. Era espantoso ver um leão, abanando a cauda,
lambendo o rosto de um escravo que, por sua vez, não cansava de abraçar o leão
como um velho amigo. O Imperador chamou Ândrocles e pediu que explicasse o que
estava acontecendo. Ândrocles contou-lhe detalhadamente como fez amizade com o
leão e da surpresa e alegria de reencontrá-lo ali.
O Imperador, admirado concedeu liberdade a ambos afirmando que uma
amizade entre inimigos tão opostos deveria ser premiada e honrada.
Você tem o Leão de Judá
como amigo?
Nós éramos escravos do pecado, mas o Leão da tribo de Judá, a Raiz
de Davi nos deu gratuitamente a vitória por meio de seu sacrifício. Hoje
habitamos com o filho do leão, Jesus Cristo. Temos profunda amizade com aquele
que venceu e tem toda autoridade para nos conduzir em liberdade e vitória até a
eternidade.
Excelentes textos! Parabéns por enriquecer a vida das pessoas!
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