quinta-feira, 4 de maio de 2017

Resgate Imediato em Viana

Resgate Imediato em Viana


Como Deus nos livrou de uma “punga” em Angola

Joubert de Oliveira Sobº





Saímos eu e a Inez naquela tarde, 20 de abril de 17, a fim de encontrar um colar cervical do tamanho certo. O torcicolo dela custava a ceder. Era preciso imobilizar o pescoço de maneira definitiva. O colar anterior era desconfortável e de tamanho médio. Ela precisava de um pequeno.

Resolvemos ir a um centro comercial melhor servido de farmácias. Mas, devido a obras na Via-Expresso, desistimos de ir à Talatona e fomos para Viana. Ao entrar no bairro começamos a parar em cada farmácia. A maioria não tinha o colar. As que tinham eram do tamanho grande. Insistimos até que paramos na avenida central de Viana, numa farmácia no quarteirão ao lado da Repartição de Educação - a administração regional das escolas. Paramos à direita e a farmácia ficava do lado esquerdo da avenida de duas pistas.

Aquela farmácia central também não tinha o colar procurado. Ao voltar para o carro, atravessamos a primeira pista. A Inez estava à minha esquerda e, ao atravessar a segunda, fui abordado pela direita por um rapaz que se movia de forma estranha, com os braços descoordenados, além disso gritava como um anormal. Começou a se aproximar de mim. Preocupei-me com a pasta que estava na mão esquerda. Abri rapidamente o carro e a joguei para dentro fechando logo em seguida. Ele, por sua vez, se achegou ao meu corpo dizendo:

– Olha aí, vou lutar com você; quer ver?

O que aconteceu em seguida demorou-se a ser processado em minha mente. Eu não conseguia entender a finalidade do maroto que, posicionado em meu lado direito, abaixou-se e pôs a mão direita em minha perna, empurrando-me com a lateral do corpo, com se fosse me dar um golpe infantil, sem maiores efeitos em meu equilíbrio. Eu não via lógica na ação dele. Ao perceber a invasão de meu espaço vital, levantei meu braço e minha voz, ordenando que se afastasse e não encostasse em mim.

– Tire as mãos de mim! Não encoste as mãos em mim!

Posicionei-me para enfrentá-lo e empurrá-lo. Ele deu passos para trás e chegou à calçada, olhando para a Inez que já entrava no carro com pressa e trancava a porta.

Enquanto eu ralhava com o rapaz, ouvi por detrás de mim, uma voz grave que falava duro também com o vadio. Ao me virar vi um jovem negro, musculoso, com camisa do time local 1º de Agosto - parecida com a do Flamengo - , bermuda e chinelos:

– Agora você está aqui? Vai embora daqui agora. Já mandei sair. Chega!

Enquanto repreendia o malandro sem o deixar falar, pegou-o pelos braços e começou a empurrá-lo à força para o meio da pista a fim de levá-lo para o outro lado da avenida, passando ambos por detrás de mim, que me encontrava ao lado da porta do motorista. Ainda atordoado e sem entender o que acontecia, percebi que o insolente cedia à pressão do jovem com certo temor. Embora tentasse resistir, o malandro argumentava que estava apenas brincando comigo e que eu havia deixado cair algo. Ao dizer isto, sob a pressão do jovem que o empurrava, levantou a mão esquerda em minha direção, como se mostrasse o que me havia tomado.

Na mão esquerda dele estava um pequeno pacote com mais de 20.000 kz, (notas de dinheiro angolano) e dois cartões: um azul, Multicaixa (cartão de banco) e um vermelho, de um supermercado. Era tudo que eu carregava no fundo de meu bolso direito. Estendi rapidamente a mão e alcancei o pacotinho que ele mostrava na intenção de provar que não teve má-intenção…

Apatetadamente surpreso, abri a porta e entreguei para a Inez o dinheiro e os cartões, tentando entender o ocorrido. Eu havia sido “pungado” em Angola, como fazem os melhores praticantes dessa modalidade de delito no Brasil, e nem me dei conta. Enquanto isto, ambos atravessavam a rua. O jovem empurrava e o assaltante que, andando de costas, se esquivava. Entrei no carro e ao ligar o motor, vi o jovem com a camisa igual a do Flamengo, passar do outro lado da avenida em sentido contrário. Nossos olhos se encontraram. Quando pensei em agradecer-lhe ou, ao menos, acenar um positivo com o polegar, olhei novamente e ele sumiu entre os pedestres. Não tive tempo para agradecer-lhe nem perguntar seu nome. Embora sem nenhum tipo de previsão, excessivamente ingênuo e alheio ao que me ocorria - tipo ovelha diante do lobo - fui resguardado de um grande prejuízo. Nada foi perdido. Tudo foi resgatado. Saí dali e demorei para digerir o acontecimento.

Quem era aquele jovem que interferiu no exato momento? Seria uma jogada dupla tipo, um assalta e o outro empurra para levar embora mais rapidamente o despojo e dividir depois? Se assim fosse, o maroto não devolveria, sob pressão, o que sorrateiramente tirou de meu bolso, tendo eu completa inconsciência de que tinha me furtado. Imaginei que fosse um policial à paisana que já conhecia a peça rara do vadio e, ao vê-lo me abordar, resolveu interferir e impedi-lo. Esta possibilidade se torna mais relevante quando se ouve que, é comum por aqui, policiais evitarem interferir em favor de cidadãos que são abordados na rua por assaltantes.

Outra possibilidade, de cunho sobrenatural, seria que o jovem, com camisa semelhante a do Flamengo, fosse um anjo que Deus enviou para interferir em nossa defesa e resgate. Eu não duvido. Admira-me mais a camisa do 1º de Agosto como disfarce angelical. A experiência na obra de Deus mostra que não há coincidência sem propósito; concretizando a verdade dita à séculos pelo apóstolo Paulo: “Sabemos que Deus age em todas as coisas para o bem daqueles que o amam, dos que foram chamados de acordo com o seu propósito”, Romanos 8.28.

Duas coisas eu concluí com certeza: a primeira é que os espíritos malignos estão insistentemente no nosso pé. A segunda é que Deus está conosco, sem nenhuma dúvida.