sábado, 18 de junho de 2011

Hic sunt leones



Hic sunt leones

Joubert de O. Sobº
Devocional CRE – 13.06.11

Esta é uma frase latina que significa “aqui moram leões”. Segundo Malba Tahan*, é comum encontrá-la nas antigas cartas geográficas. Certamente os conquistadores, descobridores tiveram grandes surpresas ao adentrar em novas terras e continentes. Cada montanha, cada rio, cada floresta deveria ser detalhadamente descrita e, nos mapas, desenhado; muito mais se encontrassem feras temíveis como os leões.

Os alunos são, em parte, como os descobridores. Passam a conhecer territórios nos quais nunca estiveram antes. Descobrem os rios e fontes da Língua Portuguesa, os montes e vales da Física, as cavernas e cavidades subterrâneas da Matemática, as florestas da Química, as planícies da Geografia, as variações climáticas da História e os mares das Artes. Todas estas descobertas se fazem, especialmente em nossa escola, sobre os princípios da Palavra de Deus, onde o conhecimento da verdade se faz reconhecendo sua origem em Deus. Consequentemente, com este mapa que compõe a nossa cosmovisão cristã, passamos a conhecer também a pessoa de Deus.

Há duas grandes necessidades no mundo: conhecer a Deus e conhecer o ser humano. Sob a revelação bíblica, ao conhecer a Deus conhecemos também a humanidade. Porém, é patente que muitos especialistas e profundos conhecedores de determinadas áreas da ciência desconhecem quase que totalmente os meandros de si mesmos, os valores ocultos da alma, as potências das paixões ameaçadoras e a localização exata das feras interiores. No mapa de si mesmos não sabem onde devem escrever: hic sunt leones...     
    

Pensadores antigos já enxergavam essa necessidade e propunham alguns exercícios para conhecimento de si mesmos, conforme descreve Malba Tahan. Seria bom se nos acostumássemos a fazer o mesmo.

Pitágoras recomendava que se cada um fizesse estas perguntas a si mesmos duas vezes ao dia: Que fiz eu? Como o fiz? Fiz tudo o que devia fazer?

Quíntio Céxtio fazia para si todas a noites estas perguntas: A que fraquezas de meu caráter busquei remédio hoje? Que defeitos combatí? Em que foi que me tornei melhor?

Sêneca escreveu: Tenho o hábito de examinar-me cada dia. À noite, depois de apagar a luz, percorro o meu dia em pensamento e ponho todas as minhas palavras e todas as minhas ações no prato da balança.

Sabemos, porém, que muito antes desses pensadores concluírem que o conhecimento de si mesmo era importante para a vida, os profetas do Senhor já clamavam ao povo de Deus que fizessem um autoexame e se arrependessem:

Esquadrinhemos os nossos caminhos, e provemo-los, e voltemos para o SENHOR. Lamentações 4.40.

A Bíblia é clara em nos chamar ao autoconhecimento sob a perspectiva de Deus:

Examinai-vos a vós mesmos, se permaneceis na fé; provai-vos a vós mesmos. 2 Coríntios 13.5.

Examine-se, pois, o homem a si mesmo, e assim coma deste pão e beba deste cálice. 1 Coríntios 11.28.

Hipócrita, tira primeiro a trave do teu olho, e então cuidarás em tirar o argueiro do olho do teu irmão. Mateus 7.5

E não somente isto; a Bíblia indica qual é a causa de tanta dificuldade em se autoconhecer e se autoexaminar: Enganoso é o coração, mais do que todas as coisas, e perverso; quem o conhecerá? Jeremias 17.9. Essa é, hoje, a mesma causa que torna difícil às pessoas fazerem uma “carta geográfica” de si mesmos.

Se nosso coração não nos ajuda neste trabalho, podemos orar e pedir ajuda do Senhor para este autoexame:

Examina-me, SENHOR, e prova-me; esquadrinha os meus rins e o meu coração. Salmo 26.2

Sonda-me, ó Deus, e conhece o meu coração; prova-me, e conhece os meus pensamentos. E vê se há em mim algum caminho mau, e guia-me pelo caminho eterno. Salmo 139.23,24.


Certamente o Espírito Santo nos esclarecerá e nos fará conhecer nossas forças e fraquezas, nossos lugares de paz e de extremo cuidado em nosso interior. Quanto mais conhecermos a Deus através das Escrituras Sagradas, mais conheceremos a nós mesmos a ponto de sermos capazes de elaborar o mapa da alma.

* TAHAN, Malba. Lendas do céu e da terra. 16.ed. São Paulo: Conquista, 1964. p.199.

quarta-feira, 15 de junho de 2011

O ateu e o mal


Gregory Koukl
por Hamilton Furtado, terça, 14 de junho de 2011 às 19:18

Depois de décadas discutindo o problema do mal, eu descobri uma abordagem que tem maciçamente simplificado minha tarefa, que sutilmente vira o jogo com os ateus, pendurando-os adequadamente sobre os chifres de seu próprio dilema.

Veja como ele funciona. Eu não começo a minha resposta com preocupações tácticas (manobras sobre as especificidades), mas sim com um ponto estratégico (o quadro geral) pretendendo mostrar que o ateu ele próprio não está fora do cerco do problema do mal.

Para preparar o terreno, começo esclarecendo o desafio em termos nítidos. Eu explico a lógica da denúncia. Então, eu ofereço uma anedota, ilustração ou notícia com cenas fortes (sempre há algum horror nas manchetes), acentuando a gravidade do protesto do ateu. Em suma, tento aumentar a força emocional da objeção.

Em seguida, eu digo ao público que não lido com o problema em primeiro lugar como teólogo ou filósofo, ou mesmo como um cristão, mas como um ser humano tentando entender o sentido do meu mundo. Provas do mal abundam flagrantemente. Como faço para contabilizar tal depravação?

Mas, eu sou rápido para acrescentar – e aqui é o movimento estratégico –  eu não estou sozinho. Como teísta, eu não sou o único confrontado com este desafio. O mal é um problema para todos. Toda pessoa, independentemente da religião ou visão de mundo, deve responder a essa objeção.

Até mesmo o ateu. E se alguém é assaltado por uma tragédia pessoal, afligido por eventos mundiais, vitimados pela corrupção religiosa ou abuso e responde a isso com uma rejeição a Deus tornando-se ateu (como muitos fizeram)? Note que ele não resolveu o problema do mal. Ele simplesmente eliminou uma possível resposta: o teísmo.

O ateu não pode levantar a questão, virar nos calcanhares e dar no pé. Sua objeção é que o mal existe realmente, objetivamente, como uma característica real do mundo. De outro modo, por que levantar a questão? Mesmo que o teísmo não consiga dar uma resposta satisfatória, o problema não desaparece. O mal continua.

O ateu ainda tem de responder à pergunta: "Como posso explicar o mal agora, como um ateu? Como faço para responder ao problema do mal de uma visão de mundo materialista?" Ele já não tem os recursos do teísmo para sacar. Então o que é que restou a ele?

Há apenas uma solução para ele. O ateu tem que jogar a carta do relativismo. A moralidade é tanto o produto de um contrato social ou um truque da evolução. Isso é o melhor que o materialismo pode fazer. Sua própria resposta ao problema do mal, então, é que não há nenhum problema do mal. A moralidade é uma ilusão. Seja o que for, é certo. Nada mais pode ser dito.

Você vê em que lugar difícil isso coloca o ateu? Se esta é a resposta certa para o problema do mal, então a sua queixa inicial desaparece. O único mal que pode começar a tracionar um problema contra Deus deve ser algo real – mal objetivo – não apenas uma invenção cultural ou biológica.

Aqui está a ironia. A existência do mal inicialmente torna o ateu furioso, mas a sua própria visão de mundo transforma o mal objetivo com o qual ele ficou tão indignado em uma completa ilusão.

O grande filósofo ateu do século 20, Bertrand Russell, perguntava como alguém pode falar de Deus, quando ajoelhado na cama de uma criança morrendo. Seu desafio tem força retórica poderosa. Como alguém pode se agarrar à esperança de um soberano benevolente e poderoso em face de tal tragédia?

Então, o filósofo cristão William Lane Craig oferece esta resposta: "O que o ateu Bertrand Russell vai dizer quando ajoelhado ao lado da cama de uma criança morrendo? "Muito ruim"? "Azar"? "As coisas são assim"? Não há final feliz? Nenhum sol por trás das nuvens? Nada além do devastador mal sem sentido?

Eles não podem falar da paciência e da misericórdia de Deus. Eles não podem falar da perfeição futura que aguarda todos os que confiam em Cristo. Eles não podem oferecer o conforto de um Deus redentor trabalhando para fazer com que todas as coisas cooperem para o bem daqueles que o amam e são chamados segundo o seu propósito. Eles não têm "boas notícias" de esperança para um mundo falido. Sua visão de mundo lhes nega esses luxos.

O que me leva à questão mais importante a fazer sobre o problema do mal: Que visão de mundo tem os melhores recursos para dar sentido a este desafio?

A resposta não é o ateísmo. A resposta para o mal é Deus, em Jesus, na cruz, no Calvário. As particularidades ainda devem ser desenvolvidas. Mas eu começo com a questão estratégica, primeiro. Isso define o cenário. Só depois posso entrar em detalhes.