sábado, 21 de abril de 2012

Os risos de Marcela


Os ministros do Supremo Tribunal Federal aprovaram, no dia 12 de abril, por oito votos a dois, a interrupção da gravidez de fetos com anencefalia. Eles consideraram que um bebê anencéfalo não tem "vida jurídica".


Leia este artigo do Pe. Luiz Carlos Lodi da Cruz, Presidente do Pró-Vida de Anápolis publicado em 2007 e veja se estas mães concordam com isto.

Os risos de Marcela
(com mais de nove meses de nascida,
a anencéfala Marcela com seu sorriso contradiz os abortistas)


Marcela rindo, no colo de sua mãe.

No dia 20 de outubro de 2004, enquanto fervilhava a discussão sobre o aborto de anencéfalos no Supremo Tribunal Federal, o advogado Luiz Roberto Barroso, em sustentação oral, afirmou solenemente (clique aqui para assistir ao vídeo):

A letalidade da anencefalia é de 100%. Se alguém disser que viu um anencéfalo que viveu semanas, meses e anos, não é que esteja mentindo; está acreditando no que quer acreditar, porque não é possível acontecer isso de acordo com a ciência médica”.

Ao fazer essa afirmação categórica, o renomado jurista foi imprudente. A sobrevida extra-uterina de um bebê anencéfalo costuma ser breve, mas não é impossível que ultrapasse semanas ou meses. Em 21 de junho de 1996, o Comitê Nacional para a Bioética do governo italiano aprovou uma declaração em que se dizia:

... com os atuais tratamentos a sobrevivência do anencéfalo é muito reduzida. São relatadas percentagens de nascidos vivos entre 40 – 60%, enquanto depois do nascimento somente 8% sobrevive mais de uma semana e 1% entre 1 e 3 meses. Foi relatado um caso único de sobrevivência até 14 meses e dois casos de sobrevivência de 7 a 10 meses, sem recorrer à respiração mecânica.[1]

No Brasil, já houve o caso de uma menina anencéfala, Maria Teresa, nascida em 17/12/2000, em Fortaleza (CE), que recebeu alta hospitalar que só veio a falecer em 29/03/2001, portanto com mais de três meses de nascida![2]  



Maria Teresa, anencéfala, e sua mãe Ana Cecília Araújo Nunes

A anencéfala Marcela de Jesus Ferreira, porém, nascida e batizada na Santa Casa de Patrocínio Paulista (SP) no dia 20 de novembro de 2006, parece estar disposta a ultrapassar todos os recordes. Recebeu alta hospitalar no dia 18 de abril de 2007 (portanto, com quase cinco meses de nascida!), e agora vive com sua mãe Cacilda Galante Ferreira em uma casa na cidade. A necessidade de estar perto de um lugar com assistência médica impediu Marcela e sua mãe de irem para o sítio da família, onde vive o pai de Marcela, Sr. Dionísio Justino Ferreira, com as duas filhas do casal: Débora (18 anos) e Dirlene (15 anos).

Diz Sra. Cacilda: “Desde que eu fiquei sabendo que ela ia nascer com problema, eu a entreguei nos braços de Jesus, pedindo a Ele que ela seja um instrumento nas mãos dele... para que Ele a use da maneira que for da vontade dele”.

Lamentavelmente a revista Veja publicou sobre Marcela uma matéria altamente pejorativa, intitulada “A menina sem estrela”[3]. Segundo a jornalista, Marcela nunca sentiu o toque das mãos de sua mãe (!). E prossegue: “A menina nunca ouviu um único som e não sabe o que é sentir dor física ou emocional. Desconhece o cheiro e o sabor de qualquer alimento. Sobrevive no mais absoluto vazio”. A reportagem termina citando um pediatra alemão, Roberto Wüsthof, que diz, referindo-se à eutanásia para crianças, permitida na Holanda: “Casos como o de Marcela certamente seriam incluídos nos protocolos de eutanásia na Holanda. [...] Não faz sentido ser diferente. É como se ela fosse um computador sem processador”.

Ora, o valor da vida de um ente humano, como Marcela, não se mede pela expectativa de duração, nem pela presença ou ausência de um órgão (como o cérebro), nem pelo funcionamento ou não dos sentidos, nem sequer pela possibilidade ou não de consciência. Quando éramos uma única célula (chamada ovo ou zigoto), nenhum órgão sensorial existia. O cérebro só começaria a emitir ondas na sexta semana de vida. No entanto, nossa vida já era inviolável, mesmo naquele estágio unicelular.

Assim, ainda que fosse verdade o que a revista Veja falou de Marcela, essa criança não seria menos humana, menos viva e nem menos digna de respeito. No entanto, os dados apresentados pela revista são simplesmente falsos. Marcela não é uma “menina sem estrela”.

Diz Sra. Cacilda: “Eu acho que ela é uma estrela mandada por Deus, para que seja um instrumento nas mãos dele”.



Marcela reage ao toque da mãe. Com sua mãozinha, ela agarra os dedos de Sra. Cacilda. Ela se assusta com o som de alguma coisa caindo, reage à luz dos refletores trazidos pelos fotógrafos, grita de dor quando sente cólica, fica triste, faz beiço, chora. Quando não gosta de um alimento, ela cospe. Reconhece a voz da mãe. “Quando sou eu que falo com ela, ela fica quietinha”, diz Sra. Cacilda.

Com cerca de 8 kg e 62 centímetros , Marcela, que já completou nove meses de nascida, é uma menina gordinha. Alimenta-se não só de leite NAN 2, mas também das papinhas que a mãe prepara. Por exemplo: arroz, feijão e carne batidos no liquidificador.

A mãe se surpreende com ela a cada minuto que passa. “Ela está aprendendo até a conversar comigo. Ela fala ‘é...’, ‘mã..’”.

Mas a reação mais impressionante de Marcela é o sorriso. Ela não apenas ri muito, mas chega a dar gargalhadas quando a mãe lhe faz cócegas. O riso – privilégio da espécie humana – não está ausente em Marcela, que é humana como nós.

Pode um anencéfalo ter consciência? Devido a um fenômeno chamado neuroplasticidade, os neurônios são capazes de assumir funções de células vizinhas que foram lesadas. No anencéfalo, o córtex cerebral está ausente, mas está presente o tronco cerebral e o cerebelo. Referindo-se ao anencéfalo, assim se pronuncia o citado Comitê de Bioética: “... a neuroplasticidade do tronco poderia ser suficiente para garantir ao anencéfalo, pelo menos, nas formas menos graves, uma certa primitiva possibilidade de consciência.” E prossegue com esta importante conclusão:

“Deveria, portanto, ser rejeitado o argumento de que o anencéfalo, enquanto privado dos hemisférios cerebrais, não está em condições, por definição, de ter consciência e provar sofrimentos.”[4]  



A reabilitação do anencéfalo

Em 08 de setembro de 2004, o Conselho Federal de Medicina (CFM) aprovou uma Resolução[5] que permitia arrancar os órgãos de recém-nascidos anencéfalos para fins de transplante mesmo antes de eles estarem mortos, ou seja, com o tronco cerebral ainda funcionando!

Esta resolução confirmou o Parecer n. 24, de 9 de maio de 2003, do conselheiro Marco Antônio Becker[6], que trazia a seguinte recomendação: “uma vez autorizado formalmente pelos pais, o médico poderá proceder ao transplante de órgãos do anencéfalo após a sua expulsão ou retirada do útero materno, dada a incompatibilidade vital que o ente apresenta, por não possuir a parte nobre e vital do cérebro, tratando-se de processo irreversível, mesmo que o tronco cerebral esteja temporariamente funcionante (grifo nosso)”.

Essa monstruosidade foi revogada pela Portaria n. 487, de 2 de março de 2007,[7] do Ministro da Saúde José Agenor Álvares da Silva. Segundo essa portaria, “a retirada de órgãos e/ou tecidos de neonato anencéfalo para fins de transplante ou tratamento deverá ser precedida de diagnóstico de parada cardíaca irreversível” (art. 1°). Ou seja, será necessário que o coração pare definitivamente de bater, para só depois iniciar a remoção dos órgãos.

Essa portaria, graças a Deus, reconhece o “status” de ente humano vivo do bebê anencéfalo. Fica assim mais difícil para os Ministros do Supremo Tribunal Federal acatar o pedido da Argüição de Descumprimento de Preceito Fundamental n. 54 (ADPF 54), de liberar o aborto de anencéfalos. Mais difícil ainda enquanto Marcela estiver viva e dando gargalhadas...

Nossa! Eu me sinto tão privilegiada de Deus ter-me escolhido para cuidar de um anjinho desses! É um anjo mesmo, é um anjo que está salvando muitas vidas” (Cacilda Galante Ferreira, mãe de Marcela).

Anápolis, 10 de setembro de 2007.
Pe. Luiz Carlos Lodi da Cruz
Presidente do Pró-Vida de Anápolis



[1] COMITATO NAZIONALE PER LA BIOETICA. Il neonato anencefalico e la donazione di organi21 giugno 1996. p. 11. Disponível em: Acesso em: 03 set. 2007, tradução nossa.
[2] Maria Teresa foi a quarta filha de Ana Cecília Araújo Nunes, Mestra em Educação Brasileira pela Universidade Federal do Ceará e professora da Universidade Estadual do Ceará. Cf. Ana Cecília Araújo NUNES, A história de Maria Teresa, anencéfala, ago. 2004. Disponível em: Acesso em: 3 set. 2007.
[3] LOPES, Adriana Dias. A menina sem estrela. Veja, São Paulo, SP, 15 ago. 2007, p. 122.
[4] COMITATO NAZIONALE PER LA BIOETICA , Op. cit. p. 15. Tradução nossa.
[5] Resolução 1.752/2004, publicada na seção 1 - página 140 do Diário Oficial da União do dia 13/09/2004.
[6] Parecer sobre o Processo-Consulta 24/2003, a pedido do Ministério Público do Paraná.
[7] Publicada no Diário Oficial da União, 5 mar. 2007, Seção 1, p. 29.


Fonte: http://www.providaanapolis.org.br/




sexta-feira, 13 de abril de 2012

O Presidente do STF argumenta contra o aborto de anencéfalos

Veja como uma argumentação baseada apenas em fundamentos humanistas - e não em valores "religiosos" - é contundente em relação ao princípio de valorização da vida. Com esta palavra do Ministro Cezar Peluso, ninguém poderá alegar que não sabia...




quinta-feira, 12 de abril de 2012

Valeram as penas!!!


Valeram as penas!


                            
Joubert de Oliveira Sobrinho
Devocional CRE de 11.04.2012

Portanto o mesmo Senhor vos dará um sinal: Eis que a virgem conceberá, e dará à luz um filho, e chamará o seu nome Emanuel.
Manteiga e mel comerá, quando ele souber rejeitar o mal e escolher o bem. Isaías 7:14-15

O texto de Isaías é uma profecia a respeito do nascimento de Jesus. O profeta afirma que ele nasceria de uma virgem, que seu nome seria “Deus Conosco”, significado da palavra Emanuel, que comeria manteiga e mel e que chegaria um tempo em que ele saberia rejeitar o mal e escolher o bem.

Esta última afirmação é de difícil entendimento, pois, como Jesus sendo Deus e sem pecado teria que vir a saber ou aprender a rejeitar o mal e escolher o bem? Isto significa que por um tempo, na tenra infância, ele não saberia fazer esta distinção? Sendo assim ele teria que receber instrução, ensino, recursos para que no tempo devido adquirisse o discernimento do que era o bem e o mal e, assim, poder rejeitar a um e escolher o outro com sua própria vontade.

Para alguns comentaristas, este texto é tão misterioso que preferem atribuí-lo não diretamente a Jesus, objeto da profecia messiânica do verso 14, mas ao filho do rei Acaz ou mesmo ao filho menor de Isaías, juntando os versos 15 e 16 numa profecia mais imediata, para aquele tempo.

Acredito que o verso 15 refere-se a Jesus por algumas razões que mencionarei a seguir. As figuras bíblicas ajudam a discernir a Palavra de Deus. Alguém já afirmou que manteiga e mel, além de significarem no texto o alimento sólido que se dá a uma criança mais crescida, fariam referência especificamente ao conhecimento da Palavra e à sabedoria adquirida pelo sofrimento.



Manteiga

Manteiga é a gordura que se origina da nata do leite batido. O leite é figura da Palavra de Deus como um alimento básico, fundamental para o crescimento espiritual e que antecipa o alimento sólido indicado aos mais crescidos. Portanto, comer manteiga significaria ter um maior ou mais profundo conhecimento da Palavra de Deus:

Desejai afetuosamente, como meninos novamente nascidos, o leite racional, não falsificado, para que por ele vades crescendo, 1Pe 2.2

Porque, devendo já ser mestres pelo tempo, ainda necessitais de que se vos torne a ensinar quais sejam os primeiros rudimentos das palavras de Deus; e vos haveis feito tais que necessitais de leite, e não de sólido mantimento, Hb 5.12
Mel

O mel é o líquido viscoso e doce produzido pelas abelhas a partir do néctar das flores e processado por suas enzimas digestivas, sendo armazenado em favos em suas colmeias para servir-lhes de alimento. No próprio capítulo 7 de Isaías os Assírios, inimigos de Israel, são chamados de abelhas,

Porque há de acontecer que naquele dia assobiará o SENHOR às moscas, que há no extremo dos rios do Egito, e às abelhas que estão na terra da Assíria; E todas elas virão, e pousarão nos vales desertos e nas fendas das rochas, e em todos os espinheiros e em todos os arbustos. Isaías 7:18-19

O mel, então, figuraria a sabedoria adquirida através do sofrimento. Teria Jesus sofrido? Bem, sua mãe sofreu a pressão social por engravidar (pelo Espírito) antes do casamento; ao nascer não havia um lar ou hospedaria adequada para sua chegada; ainda pequeno teve que fugir para outro país para que não fosse morto; dezenas de meninos com menos de dois anos foram brutalmente assassinados por ordem de Herodes em razão de seu nascimento; quando adolescente, jovem e adulto teve que enfrentar as tentações comuns em suas etapas, razão pela qual o autor de Hebreus menciona:

Porque não temos um sumo sacerdote que não possa compadecer-se das nossas fraquezas; porém, um que, como nós, em tudo foi tentado, mas sem pecado. Hebreus 4:15

O qual, nos dias da sua carne, oferecendo, com grande clamor e lágrimas, orações e súplicas ao que o podia livrar da morte, foi ouvido quanto ao que temia. Ainda que era Filho, aprendeu a obediência, por aquilo que padeceu. Hebreus 5:7-8

A exemplar educação de José e Maria

Certamente os pais de Jesus, José e Maria, deram a ele instrução adequada tanto na Palavra de Deus quanto na condução da vida através da educação do pensamento, do comportamento, do desenvolvimento dos bons hábitos, suprindo-o com recursos possíveis e exemplo para que ele pudesse saber rejeitar o mal e escolher o bem. Eles providenciaram meios para ajudar o Senhor do universo a ser humano e cumprir o propósito estupendo de sua vida como Salvador e Redentor da humanidade e de toda a Criação.



Sustentar e prover recursos para o cumprimento do propósito divino é o grande desafio para os pais e responsáveis pelas crianças. Não é simples dotar uma criança de meios e instrumentos para que tenha uma vida abençoada e livre de más escolhas e desgraças. Tanto que mesmo em face do melhor que os pais se esforçam em dar aos filhos, muitos deles escolhem o caminho mais difícil colhendo espinhos ao longo da vida por causa da má semeadura que fizeram. Neste momento os pais se perguntam frequentemente: - Onde errei? Mas, nem sempre os erros dos pais justificam a má escolha voluntária dos filhos. Que fazer, a não ser orar, quando eles decidem inverter a vontade de Deus, escolhendo o mal e rejeitando o bem?



A "Marquesa de Pombal"

No final de 2011 ocorreu um fato que me fez pensar muito especialmente na questão da provisão dos recursos que os pais empenham para ver os filhos bem encaminhados na vida. Numa manhã, quando ia retirar o carro da garagem, percebi uma movimentação excessiva da Bonnie, minha cadelinha toda preta e do Bijou, meu gato todo branco. Olhei debaixo do carro e lá se debatia uma pomba aparentando estar doente. Com o auxílio de uma vassoura trouxe a pomba para perto e notei o estado lastimável do pássaro e imediatamente pensei tratar-se de alguma enfermidade. Mas olhando com mais calma notei que todas as penas do rabo haviam sido arrancadas. A pele estava avermelhada e com os poros evidentes. As penas maiores da asa direita haviam sido cortadas à tesoura na altura da metade, provavelmente para que não voasse.

A princípio fiquei incomodado, pois a pomba tomava meu tempo, mas logo lembrei de Jesus dizendo que apesar dos pássaros terem pouco valor, o Pai cuidaria de suas vidas e de seu alimento... Resolvi pegar uma pequena caixa de papelão e protege-la em meu quintal. Separei alguma massa de pão molhado, um pouco de semente de linhaça, água e pude perceber o quanto ela estava faminta, pois comeu rapidamente e depois se aninhou no canto da caixa para descansar. Pronto. Acabei de arrumar mais uma coisa para me preocupar, pensei. Passei a chama-la de Marquesa de Pombal, nada a ver com o estadista português.



Logo me vi arrumando uma caixa maior, elaborando uns galhos que servissem de poleiro, adaptando um guarda chuva sobre a caixa, pesquisando na web o que come uma pomba, comprando painço, quirela, mistura de sementes para trinca-ferro (que ela gostava muito), folhas de verduras, cascas de ovo, tentando saber como suprí-la a fim de que voltasse a voar, o propósito da sua existência. O irmão Claudinei, ao saber da mais nova hóspede, emprestou-me uma gaiola de bom tamanho que ajudou muito no processo. Enfim, limpar gaiola, trocar água, colocar e trocar comida diariamente foram ações incluídas à força em minha rotina. E as penas do rabo começaram a crescer.

Sem paciência na prisão

A essas alturas já sabia que as penas arrancadas na raiz nasceriam novamente, mas as cortadas ao meio teriam que ser arrancadas para que as novas nascessem, senão, eu teria que esperar a muda anual, o que me desesperou. Então pensei: é só arrancar as penas  que foram cortadas! Mas, para ajudar, descobri que uma das maiores dores para um pássaro é o arrancar de suas penas... Imaginei o sofrimento dela tendo arrancadas todas as penas do rabo e agora eu lhe causaria a dor da asa? Sem coragem para arrancar as sete ou oito penas das asas que estavam cortadas ao meio, me vi pagando consulta em uma clínica  veterinária de uma especialista em aves selvagens que aplicou um analgésico na pomba antes de lhe arrancar todas as penas cortadas em cinco segundos.



Os dias foram passando, o rabo estava pronto e as penas das asas ainda despontavam, mas o comportamento da pomba começou a mudar. Em alguns momentos a docilidade era substituída pela braveza. De vez em quando ela bicava seguidamente minha mão, arrulhava alto e depois de comer, batia as asas e se jogava contra a porta da gaiola. Queria sair de qualquer maneira. Eu passei a me sentir um carrasco aprisionando um inocente... A partir de então, comecei a “treiná-la” em seu futuro voo. Fechava as janelas da sala, cobria os móveis e a forçava a voar. Mas as penas maiores que estavam crescendo faziam falta. Ela se esforçava, mas não conseguia manter-se no ar. Não podíamos fazer nada. Somente esperar as penas crescerem. Era frustrante, inclusive para mim, que ela desejasse voar sem poder e que seu aprisionamento estressante fosse, na verdade, a sua segurança.


Em fevereiro tive que viajar e providencialmente a professora Rosaninha se dispôs a cuidar da pomba. O gato dela deu um pouco de preocupação para a marquesa de pombal, porém, naqueles dias as penas das asas cresceram. Quando voltei, elas estavam grandes, quase do tamanho da outra asa. A veterinária até ligou perguntando dela. Esperava ter boas notícias! Fiz o teste na sala. Soltei-a e ela voou parando na altura do teto escolhendo onde iria pousar. Já estava chegando a hora de soltá-la. Ela estava em condições de decidir a vida por si mesma e cumprir o propósito de sua vida.

A conquista do céu

Na manhã seguinte, após a rotina de troca da comida, a Marquesa de Pombal começou a arrulhar alto, bater as asas e forçar a porta da gaiola. Orei pedindo proteção à ela e às demais pombas da região, dei graças a Deus pela experiência de quase quatro meses e subi para o terraço de minha casa. Retirei-a da gaiola, esperei que ela visualizasse algumas pombas voarem no horizonte, afinal ela deveria se juntar a um bando, e a coloquei no parapeito do muro. imediatamente ela abriu as asas e partiu para um voo diferente. Ela batia as asas sem parar, subindo muito acima da altura usual das pombas. Parecia querer experimentar sua nova capacidade, testar todos os recursos que recebeu e compensar o tempo de aprisionamento na gaiola. Uma vez lá em cima começou a voar em círculos, ainda batendo as asas. Até que parou e começou a planar mantendo o mesmo círculo no ar permanecendo assim um bom tempo. Então ela decidiu descer ainda circulando no céu e pousou sobre o telhado de uma casa. Na última vez que a vi ela se juntou a umas três outras pombas e voou para detrás das copas das árvores distantes.

A satisfação da missão cumprida

Quando dei por mim estava com um leve sorriso grudado, congelado, estampado no rosto durante todos aqueles minutos. Foi um voo de despedida, se bem que ela nem olhou para trás para dizer tchau. Mas eu não me importei. O sorriso estendido em minha face expressava a satisfação de meu coração. Custou, mas valeu a pena. Ou seria melhor: “valeram as penas”? Se fiquei satisfeito com um pássaro “sem valor” ao qual dediquei tempo e dinheiro para que tivesse a capacidade de voar, quanto mais deve sentir-se satisfeito um pai e uma mãe que investe a vida e renuncia às riquezas e oportunidades em favor de seus filhos? Estendo o raciocínio e afirmo que muito mais ainda se alegra o Senhor quando nos vê “voando” e usando todos os recursos que ele nos deu para cumprirmos o seu propósito. Ele é o Deus provedor que nos supre, sustenta e guarda.

Regozijar-me-ei muito no SENHOR, a minha alma se alegrará no meu Deus; porque me vestiu de roupas de salvação, cobriu-me com o manto de justiça, como um noivo se adorna com turbante sacerdotal, e como a noiva que se enfeita com as suas jóias. Isaías 61:10

Não temas, porque eu sou contigo; não te assombres, porque eu sou teu Deus; eu te fortaleço, e te ajudo, e te sustento com a destra da minha justiça. Isaías 41:10

Para o Pai custou caro nos alcançar com a salvação. Custou a vida de seu Filho. Mas ao olhar para sua, a minha, a nossa vida, espero que ele possa dizer com um sorriso de satisfação: - Valeu a pena!

Ele verá o fruto do trabalho da sua alma, e ficará satisfeito, Isaías 53:11