Valeram
as penas!
Joubert de Oliveira Sobrinho
Devocional CRE de 11.04.2012
Portanto o mesmo Senhor vos dará um sinal: Eis que a virgem
conceberá, e dará à luz um filho, e chamará o seu nome Emanuel.
Manteiga e mel comerá, quando ele souber rejeitar o mal e escolher o bem. Isaías 7:14-15
Manteiga e mel comerá, quando ele souber rejeitar o mal e escolher o bem. Isaías 7:14-15
O texto de Isaías é uma profecia a
respeito do nascimento de Jesus. O profeta afirma que ele nasceria de uma
virgem, que seu nome seria “Deus Conosco”, significado da palavra Emanuel, que
comeria manteiga e mel e que chegaria um tempo em que ele saberia rejeitar o
mal e escolher o bem.
Esta última afirmação é de difícil
entendimento, pois, como Jesus sendo Deus e sem pecado teria que vir a saber ou
aprender a rejeitar o mal e escolher o bem? Isto significa que por um tempo, na
tenra infância, ele não saberia fazer esta distinção? Sendo assim ele teria que
receber instrução, ensino, recursos para que no tempo devido adquirisse o
discernimento do que era o bem e o mal e, assim, poder rejeitar a um e escolher
o outro com sua própria vontade.
Para alguns comentaristas, este
texto é tão misterioso que preferem atribuí-lo não diretamente a Jesus, objeto
da profecia messiânica do verso 14, mas ao filho do rei Acaz ou mesmo ao filho
menor de Isaías, juntando os versos 15 e 16 numa profecia mais imediata, para
aquele tempo.
Acredito que o verso 15 refere-se a
Jesus por algumas razões que mencionarei a seguir. As figuras bíblicas ajudam a
discernir a Palavra de Deus. Alguém já afirmou que manteiga e mel, além de
significarem no texto o alimento sólido que se dá a uma criança mais crescida,
fariam referência especificamente ao conhecimento da Palavra e à sabedoria
adquirida pelo sofrimento.
Manteiga é a gordura que se origina
da nata do leite batido. O leite é figura da Palavra de Deus como um alimento
básico, fundamental para o crescimento espiritual e que antecipa o alimento
sólido indicado aos mais crescidos. Portanto, comer manteiga significaria ter
um maior ou mais profundo conhecimento da Palavra de Deus:
Desejai afetuosamente, como meninos novamente nascidos, o leite
racional, não falsificado, para que por ele vades crescendo, 1Pe 2.2
Porque, devendo já ser mestres pelo tempo, ainda necessitais de
que se vos torne a ensinar quais sejam os primeiros rudimentos das palavras de
Deus; e vos haveis feito tais que necessitais de leite, e não de sólido
mantimento, Hb 5.12
O mel é o líquido viscoso e doce
produzido pelas abelhas a partir do néctar das flores e processado por suas enzimas digestivas, sendo armazenado em favos
em suas colmeias para servir-lhes
de alimento. No próprio capítulo 7 de Isaías os Assírios, inimigos de Israel,
são chamados de abelhas,
Porque há de acontecer que naquele dia assobiará o SENHOR às
moscas, que há no extremo dos rios do Egito, e às abelhas que estão na terra da
Assíria; E todas elas virão, e pousarão nos vales desertos e nas fendas das
rochas, e em todos os espinheiros e em todos os arbustos. Isaías
7:18-19
O mel, então, figuraria a sabedoria
adquirida através do sofrimento. Teria Jesus sofrido? Bem, sua mãe sofreu a
pressão social por engravidar (pelo Espírito) antes do casamento; ao nascer não
havia um lar ou hospedaria adequada para sua chegada; ainda pequeno teve que
fugir para outro país para que não fosse morto; dezenas de meninos com menos de
dois anos foram brutalmente assassinados por ordem de Herodes em razão de seu nascimento;
quando adolescente, jovem e adulto teve que enfrentar as tentações comuns em
suas etapas, razão pela qual o autor de Hebreus menciona:
Porque não temos um sumo sacerdote que não possa
compadecer-se das nossas fraquezas; porém, um que, como nós, em tudo foi
tentado, mas sem pecado. Hebreus 4:15
O qual, nos dias da sua carne, oferecendo, com grande clamor
e lágrimas, orações e súplicas ao que o podia livrar da morte, foi ouvido
quanto ao que temia. Ainda que era Filho, aprendeu a obediência, por aquilo que
padeceu. Hebreus 5:7-8
A
exemplar educação de José e Maria
Certamente os pais de Jesus, José e
Maria, deram a ele instrução adequada tanto na Palavra de Deus quanto na
condução da vida através da educação do pensamento, do comportamento, do
desenvolvimento dos bons hábitos, suprindo-o com recursos possíveis e exemplo para que ele pudesse saber rejeitar o mal e escolher o bem. Eles providenciaram
meios para ajudar o Senhor do universo a ser humano e cumprir o propósito
estupendo de sua vida como Salvador e Redentor da humanidade e de toda a
Criação.
Sustentar e prover recursos para o cumprimento do propósito divino é o grande desafio para os pais e responsáveis pelas crianças. Não é simples dotar uma criança de meios e instrumentos para que tenha uma vida abençoada e livre de más escolhas e desgraças. Tanto que mesmo em face do melhor que os pais se esforçam em dar aos filhos, muitos deles escolhem o caminho mais difícil colhendo espinhos ao longo da vida por causa da má semeadura que fizeram. Neste momento os pais se perguntam frequentemente: - Onde errei? Mas, nem sempre os erros dos pais justificam a má escolha voluntária dos filhos. Que fazer, a não ser orar, quando eles decidem inverter a vontade de Deus, escolhendo o mal e rejeitando o bem?
No final de 2011 ocorreu um fato
que me fez pensar muito especialmente na questão da provisão dos recursos que
os pais empenham para ver os filhos bem encaminhados na vida. Numa manhã,
quando ia retirar o carro da garagem, percebi uma movimentação excessiva da Bonnie, minha cadelinha toda preta e do Bijou, meu gato todo branco. Olhei
debaixo do carro e lá se debatia uma pomba aparentando estar doente. Com o
auxílio de uma vassoura trouxe a pomba para perto e notei o estado lastimável
do pássaro e imediatamente pensei tratar-se de alguma enfermidade. Mas olhando
com mais calma notei que todas as penas do rabo haviam sido arrancadas. A pele
estava avermelhada e com os poros evidentes. As penas maiores da asa direita
haviam sido cortadas à tesoura na altura da metade, provavelmente para que não
voasse.
A princípio fiquei incomodado, pois
a pomba tomava meu tempo, mas logo lembrei de Jesus dizendo que apesar dos
pássaros terem pouco valor, o Pai cuidaria de suas vidas e de seu alimento... Resolvi
pegar uma pequena caixa de papelão e protege-la em meu quintal. Separei alguma
massa de pão molhado, um pouco de semente de linhaça, água e pude perceber o
quanto ela estava faminta, pois comeu rapidamente e depois se aninhou no canto
da caixa para descansar. Pronto. Acabei de arrumar mais uma coisa para me
preocupar, pensei. Passei a chama-la de Marquesa
de Pombal, nada a ver com o estadista português.
Logo me vi arrumando uma caixa
maior, elaborando uns galhos que servissem de poleiro, adaptando um guarda
chuva sobre a caixa, pesquisando na web o que come uma pomba, comprando painço,
quirela, mistura de sementes para trinca-ferro (que ela gostava muito), folhas
de verduras, cascas de ovo, tentando saber como suprí-la a fim de que voltasse
a voar, o propósito da sua existência. O irmão Claudinei, ao saber da mais nova
hóspede, emprestou-me uma gaiola de bom tamanho que ajudou muito no processo. Enfim,
limpar gaiola, trocar água, colocar e trocar comida diariamente foram ações
incluídas à força em minha rotina. E as penas do rabo começaram a crescer.
Sem paciência na prisão
A essas alturas já sabia que as
penas arrancadas na raiz nasceriam novamente, mas as cortadas ao meio teriam
que ser arrancadas para que as novas nascessem, senão, eu teria que esperar a
muda anual, o que me desesperou. Então pensei: é só arrancar as penas que foram cortadas! Mas, para ajudar,
descobri que uma das maiores dores para um pássaro é o arrancar de suas penas...
Imaginei o sofrimento dela tendo arrancadas todas as penas do rabo e agora eu
lhe causaria a dor da asa? Sem coragem para arrancar as sete ou oito penas das
asas que estavam cortadas ao meio, me vi pagando consulta em uma clínica veterinária de uma especialista em aves
selvagens que aplicou um analgésico na pomba antes de lhe arrancar todas as
penas cortadas em cinco segundos.
Os dias foram passando, o rabo estava pronto e as penas das asas ainda despontavam, mas o comportamento da pomba começou a mudar. Em alguns momentos a docilidade era substituída pela braveza. De vez em quando ela bicava seguidamente minha mão, arrulhava alto e depois de comer, batia as asas e se jogava contra a porta da gaiola. Queria sair de qualquer maneira. Eu passei a me sentir um carrasco aprisionando um inocente... A partir de então, comecei a “treiná-la” em seu futuro voo. Fechava as janelas da sala, cobria os móveis e a forçava a voar. Mas as penas maiores que estavam crescendo faziam falta. Ela se esforçava, mas não conseguia manter-se no ar. Não podíamos fazer nada. Somente esperar as penas crescerem. Era frustrante, inclusive para mim, que ela desejasse voar sem poder e que seu aprisionamento estressante fosse, na verdade, a sua segurança.
Em fevereiro tive que viajar e
providencialmente a professora Rosaninha se dispôs a cuidar da pomba. O gato
dela deu um pouco de preocupação para a marquesa de pombal, porém, naqueles
dias as penas das asas cresceram. Quando voltei, elas estavam grandes, quase do
tamanho da outra asa. A veterinária até ligou perguntando dela. Esperava ter
boas notícias! Fiz o teste na sala. Soltei-a e ela voou parando na altura do
teto escolhendo onde iria pousar. Já estava chegando a hora de soltá-la. Ela
estava em condições de decidir a vida por si mesma e cumprir o propósito de sua
vida.
A conquista do céu
Na manhã seguinte, após a rotina de
troca da comida, a Marquesa de Pombal começou a arrulhar alto, bater as asas e
forçar a porta da gaiola. Orei pedindo proteção à ela e às demais pombas da
região, dei graças a Deus pela experiência de quase quatro meses e subi para o
terraço de minha casa. Retirei-a da gaiola, esperei que ela visualizasse
algumas pombas voarem no horizonte, afinal ela deveria se juntar a um bando, e
a coloquei no parapeito do muro. imediatamente ela abriu as asas e partiu para
um voo diferente. Ela batia as asas sem parar, subindo muito acima da altura usual
das pombas. Parecia querer experimentar sua nova capacidade, testar todos os
recursos que recebeu e compensar o tempo de aprisionamento na gaiola. Uma vez lá
em cima começou a voar em círculos, ainda batendo as asas. Até que parou e
começou a planar mantendo o mesmo círculo no ar permanecendo assim um bom
tempo. Então ela decidiu descer ainda circulando no céu e pousou sobre o
telhado de uma casa. Na última vez que a vi ela se juntou a umas três outras
pombas e voou para detrás das copas das árvores distantes.
Quando dei por mim estava com um
leve sorriso grudado, congelado, estampado no rosto durante todos aqueles minutos.
Foi um voo de despedida, se bem que ela nem olhou para trás para dizer tchau.
Mas eu não me importei. O sorriso estendido em minha face expressava a
satisfação de meu coração. Custou, mas valeu a pena. Ou seria melhor: “valeram
as penas”? Se fiquei satisfeito com um pássaro “sem valor” ao qual dediquei
tempo e dinheiro para que tivesse a capacidade de voar, quanto mais deve
sentir-se satisfeito um pai e uma mãe que investe a vida e renuncia às riquezas
e oportunidades em favor de seus filhos? Estendo o raciocínio e afirmo que muito
mais ainda se alegra o Senhor quando nos vê “voando” e usando todos os recursos
que ele nos deu para cumprirmos o seu propósito. Ele é o Deus provedor que nos supre,
sustenta e guarda.
Regozijar-me-ei
muito no SENHOR, a minha alma se alegrará no meu Deus; porque me vestiu de roupas
de salvação, cobriu-me com o manto de justiça, como um noivo se adorna com
turbante sacerdotal, e como a noiva que se enfeita com as suas
jóias. Isaías 61:10
Não
temas, porque eu sou contigo; não te assombres, porque eu sou teu Deus; eu te
fortaleço, e te ajudo, e te sustento com a destra da minha justiça. Isaías
41:10
Para o Pai custou caro nos alcançar
com a salvação. Custou a vida de seu Filho. Mas ao olhar para sua, a minha, a
nossa vida, espero que ele possa dizer com um sorriso de satisfação: - Valeu a
pena!
Ele
verá o fruto do trabalho da sua alma, e ficará satisfeito, Isaías 53:11
Que esplanação maravilhosa da palavra do Senhor !!! Linda história que viveu e a guardarei no coração Deus abençoe grandemente.
ResponderExcluirGloriaaaaa
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