Visto como se não executa logo o juízo sobre a má obra, por isso o coração dos filhos dos homens está inteiramente disposto para praticar o mal. Eclesiastes 8.11
Sentindo um pouco de revolta partilho minhas dores no intuito de chorar com os que choram ou se irritar com os que se irritam. Ando meio cansado da lassidão de compromissos; com a desonestidade de quem nos considera um bando de pombas tolas.
Uma simples "chupeta"
Recentemente, ao visitar um pastor, esqueci-me de desligar as lanternas e a bateria arriou. O amigo pastor, que estava de saída, me disse: - Chame os vigias do condomínio que eles dão a primeira carga. Não querendo usar dos recursos condominiais em nome do colega de ministério, acionei meu seguro, afinal, em alguns minutos teria o socorro devido.
O rapaz de uma empresa terceirizada chegou de moto após uma hora de espera. Sherlockianamente inquiriu-me os detalhes de como tudo aconteceu; que barulho fez o motor; de que lado estava o vento; quanto tempo tinha a bateria do carro; se era original; etc. Então fiquei aparvalhado* a ponto de sentir arrepiar as vibrissas!** Pois, antes de fazer a primeira tentativa de carga, ele diagnosticou o problema: as placas internas haviam "grudado", com possível queima de um suposto "distribuidor" de energia. Eu teria que comprar uma bateria nova. Dele, é claro! Ou ele tinha vínculos parentais com Jor-El, de Krypton, o pai do superman ou ele era um tremendo safado mentiroso.
Como eu tive que entrar no carro para dar a partida, não podia ver os contatos dos cabos. Na primeira tentativa ele confirmou o diagnóstico dado e começou a retirar os apetrechos de medição e os cabos. Insisti que tentasse de novo. Relutante, pediu que eu desse a partida e confirmou a diagnose***.
Teria sido melhor ouvir a voz do pastor
Certo de que eu solicitaria dele uma bateria nova, ficou calado quando pedi que fechasse o capô e encerrasse o atendimento. Eu conseguiria outra bateria de outra maneira, se fosse necessário. O jovem ficou lento, parecia não ter o que falar. Preencheu a papelada e conseguiu balbuciar uma pergunta: - Você não vai chamar o guincho, vai? Se eu chamasse o guincho descobriríamos mais rapidamente o "aplique" dele. Mas para que ele fosse embora rápido, disse que não chamaria (eu pretendia mesmo ouvir a voz do pastor e pedir socorro aos vigias).
Assim que ele saiu, chamei os vigilantes que em poucos minutos colocaram os cabos e, após a partida, o carro ligou sem problemas e pude ir embora. Perdi umas duas horas por não ter ouvido o pastor (uma figura bíblica e tanto) e por confiar no serviço de "carros e cavalos" de minha seguradora. No dia seguinte reclamei do incidente. Eles “advertiram” a empresa e prometeram providências.
Degustação com sabor de jornal
Na mesma semana, encontrei outro “espertalhão”. Resolvi aceitar, via Internet, a promoção de "degustação" gratuita de 30 dias de um jornal, já na intenção de refazer minha assinatura preferencial de sexta a domingo. No dia seguinte ligou-me um rapaz dizendo-se do jornal e fazendo perguntas e eu lhe disse que já havia aderido à promoção. Ele começou a perguntar novamente meus dados e eu relutei em lhe dar. Ele afirmou que era para me dar o número de assinante que eu não tinha.
Quando perguntou minha conta-corrente, cortei a conversa dizendo que não repetiria o que já tinha sido informado. Ele pediu que eu aguardasse e, depois de poucos segundos veio com o número da conta e agência para eu confirmar. Finalizou dando-me um número e desligou.
Quando liguei para cancelar a promoção e fazer minha assinatura escolhida, a atendente do jornal me informou que eu não estava na promoção da "degustação" gratuita, mas havia feito uma assinatura direta! Reclamei veementemente relembrando os fatos. Enfim, concluímos que o rapaz, na ânsia de vender, retirou-me da promoção e colocou-me como assinante.
A supervisora que me atendeu desculpou-se avisando que não poderia evitar o débito em minha conta da 1ª mensalidade, mas, para compensar, daria 50% de desconto na assinatura sexta a domingo. Aceitei. Para a felicidade dela. Não tanto a minha. Naquelas alturas já não me interessava jornal nenhum.
Sou humano e nada que é humano me é estranho
Terêncio já disse isto há séculos! Eu não deveria me espantar. Afinal é típico do ser humano. Mas porque não engolimos o "típico" tão facilmente? É como a morte: acontece aos milhares todo o dia, mas fato é que não nos acostumamos com esta praga nunca. Até os enganadores detestam ser enganados. Agora, por que isso ocorre com tanta frequência em nosso país? Por que o brasileiro faz isto com tanta sem-vergonhice? E se, ao invés de um rapaz com uma bateria elétrica, a palavra é de um médico com um bisturi ou um advogado com documentos na mão? Como confiar?
Concluí, com meus botões que, além da deseducação, da falta de valores morais que se tem por herança, há um fator que alimenta diretamente casos como estes: a IMPUNIDADE. É isto que diz o texto bíblico que lemos no início. Se o rapaz sofresse dura punição pela desonestidade, se o vendedor de assinaturas sofresse por ter sido ganancioso, não teríamos tantos casos como estes.
Mas ainda bem que logo em seguida ao versículo 11 de Eclesiastes 8 vem esta afirmação que nos alimenta a esperança:
Eclesiastes 8.12 - Ainda que o pecador faça mal cem vezes, e os dias se lhe prolonguem, eu sei com certeza que bem sucede aos que temem a Deus, aos que temerem diante dele.
** Vibrissas: pêlos das narinas.
*** Diagnose: conhecimento das doenças pela observação dos seus sintomas.
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