Os valores e as
escolhas
Joubert de O. Sobrinho
10/12/2012
Os céus e a terra tomo hoje por
testemunhas contra vós, de que te tenho proposto a vida e a morte, a bênção e a
maldição; escolhe pois a vida, para que vivas, tu e a tua descendência,
Deuteronômio 30:19
Não consegui evitar um certo azedume nas
entranhas após ler no jornal o artigo que comentava a escolha do fotógrafo
profissional R. Umar Abassi. Ele preferiu gastar duas dezenas de segundos para fotografar
um homem prestes a morrer nos trilhos do metrô de Nova York, ao invés de correr
para tentar salvar sua vida. Foi uma escolha. Pior ainda: ele saiu da estação
rapidamente para vender sua foto exclusiva ao jornal New York Post que, por sua vez, não fez por menos: publicou-a no
dia seguinte na primeira página com o texto:
“Empurrado da plataforma
do metro, este homem vai morrer”
“Condenado”
O fotógrafo informou às autoridades
que usou o flash para alertar o condutor do vagão da presença do homem nos
trilhos. Desde quando um flash em frente aos olhos facilita a visão? Alegar que o Código de
Ética dos fotógrafos foi a razão do mesmo não ter agido em favor da salvação do
coreano é bobagem. O código solicita que o fotografo evite interferir,
influenciar ou alterar acontecimentos. Mas que acontecimentos? Mesmo quando a
vida humana está em jogo? Por causa deste código muitos fotógrafos se
esconderam por detrás das câmeras lavando as mãos feito Pilatos, enquanto
poderiam tomar atitudes mais benignas. A mensagem que ele deixou foi clara:
mais valem os milhares de dólares, a projeção de meu nome, um possível prêmio, que
a vida de um cidadão qualquer. Ele escolheu a morte.
O valor da vida
Alegar esta regra antiética do código, contraria os princípios norteadores e responsáveis pela existência dos
salva-vidas, dos bombeiros, dos policiais, dos médicos socorristas e agentes de
saúde cuja prioridade é salvar vidas. Mas, o fotógrafo é “neutro”?!? Nem no mundo fantasioso dos
quadrinhos há dúvida. Peter Parker, o Homem-Aranha, é fotógrafo, mas
(analisando a natureza das histórias até aqui) seus sentidos-aranha indicam que
mais vale salvar uma vida que fotografar sua morte!
O que está em jogo numa decisão como
esta são os valores. Definindo com simplicidade, quando reconhecemos um valor nas
coisas, inclinamo-nos a ter uma atitude favorável para com elas que se reflete
nos nossos atos e escolhas. Se não valorizamos a vida nossas escolhas não darão
prioridade a ela. O fotógrafo declaradamente agiu valorizando seu trabalho, sua
profissão, seu ganho, ou seja lá o que for, mas não priorizou salvar a vida.
Expor a vida para salvar vidas
Em
contrapartida, apresento-lhes uma grande heroína polonesa da Segunda
Guerra Mundial que salvou 2.500 crianças judias do gueto de Varsóvia, falecida
em 2008. Em março de 2007 a Polônia lhe prestou uma homenagem solene e seu nome
foi proposto ao prêmio Nobel da Paz (ano em que escolheram Al Gore). No entanto, o memorial israelense do
Holocausto, o Yad Vashem, lhe entregou em 1965 o título de Justo entre Nações,
destinado aos não-judeus que salvaram judeus.
Irena Sandler
Nunca se considerou uma heroína.
"Continuo com a consciência pesada por ter feito tão pouco",
declarou.
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Por
valorizar a vida, Irena Sendler foi presa em sua casa em 20 de outubro de 1943.
Durante o período em que ficou detida no quartel-general de Gestapo, foi
torturada pelos nazistas que quebraram seus pés e pernas. Ainda assim, ela não
deu informações. Logo depois, foi condenada à morte, mas milagrosamente foi
salva quando a conduziam à execução por um oficial alemão que a resistência
polonesa conseguiu corromper.
Sendler continuou sua luta clandestina sob uma
nova identidade até o final da guerra, trabalhando como supervisora de
orfanatos e asilos em seu país. Quanto aos valores deixarei
que essa mulher que optou escolher pela vida, pela bênção, Irena
Sendler,
mencione as breves e suficientes palavras que o fotógrafo, bem como a multidão de pessoas que
pensam como ele, deveriam atentar para entender onde está a raiz do problema:
“A razão pela qual resgatei as crianças tem
origem no meu lar, na minha infância. Fui educada na crença de que uma pessoa
necessitada deve ser ajudada com o coração, sem importar a sua religião ou
nacionalidade”
Irena Sendler
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