Natal
Sinais de morte na celebração da vida
Joubert de Oliveira Sobrinho - Natal de 2013
Mais do que o “aniversário” de Jesus, o Natal é a celebração da sua
encarnação, quando o Verbo se fez carne, o fato que representa a vida e a
esperança para humanidade pela restauração do relacionamento com Deus. Porém, alguns sinais de morte permeiam a
história do Natal. Os sinais que o anjo anunciou
aos pastores demonstravam a humildade e o sacrifício voluntário do Filho de
Deus que viria ao mundo sem os privilégios de um nascimento nobre; antecipava
que ele seria rejeitado sem o reconhecimento de sua divindade e morto
vergonhosamente como o mais indigno dos homens.
Os anjos, admiradíssimos, compreenderam
o significado e o custo da encarnação de Jesus e o favorecimento de Deus para
com a humanidade, Lc 2.8-20. Fazer-se carne era absorver a enfermidade
espiritual que contaminou a Criação desde Adão. Após anunciar a chegada do
Filho de Deus aos pastores e lhes dar os sinais através dos quais o
encontrariam em Belém, a multidão dos exércitos do céu cantou: Glória a Deus nas
alturas, e paz na terra aos homens aos quais ele concede o seu favor (boa
vontade para com os homens), Lucas 2:14. A paz que Jesus veio trazer a terra, é bom que se
entenda, é a paz com Deus que lhes é favorável, pois a paz entre os homens não
depende totalmente dele, pelo menos nesta era. Tendo sido, pois, justificados pela fé, temos paz com Deus, por nosso
Senhor Jesus Cristo, Romanos 5:1; Não pensem que vim
trazer paz à terra; não vim trazer paz, mas espada… Mateus 10:34.
Uma criança nascida
num estábulo e não numa confortável hospedaria
Um dos primeiros sinais de desprezo pela criança foi que não lhe providenciamos um lugar conveniente para nascer. Os pais da igreja mencionavam que o local em que
Jesus nasceu deveria ser um tipo de gruta ou caverna usada como abrigo de
animais. Quanto tempo demoramos para aprender que os maiores valores do universo
não dependem da aparência exterior? A razão
deste lugar insalubre foi por não haver mais lugar na hospedaria, Lc 2.7. Uma
hospedaria é figura do coração humano, repleto de “hóspedes”, valores humanos,
filosofias, religiões, tradições, regras, bens, prazeres considerados mais
importantes que Jesus. Nós amamos estas coisas e enchemos nosso interior com
elas. Quando perguntam se temos espaço para que Jesus nasça em nosso coração,
não temos lugar, pois está repleto! Por quanto tempo estivemos com nosso
coração cheio, sem lugar para Jesus nascer?
Porém, quando reconhecemos que nosso coração é a fonte de nossos
problemas, como Jesus bem disse: Pois do
interior do coração dos homens vêm os maus pensamentos, as imoralidades
sexuais, os roubos, os homicídios, os adultérios, as cobiças, as maldades, o
engano, a devassidão, a
inveja, a calúnia, a arrogância e a insensatez. Todos esses males vêm de dentro
e tornam o homem ‘impuro’ ". Marcos 7:21-23; ou melhor, quando reconhecemos que
nosso coração está mais para caverna, gruta escura, estábulo, abrigo de bestas, curral imundo, repleto de sujeira de
“animais”, então estamos perto de receber o Rei dos Reis e Senhor dos Senhores.
Nosso orgulho e soberba serão nossos maiores empecilhos nesta hora.
Recusamo-nos a reconhecer que nossos valores interiores são desprezíveis...
O apóstolo Paulo, após reconhecer a riqueza do conhecimento de
Jesus, afirmou que todo valor que dantes possuía: instrução, tradição,
conhecimento, poder, etc., eram “esterco”, palavra que também se refere à lixo,
escória, resto, excremento de animais, sujeira, coisas sem valor, Fp 3.8. Jesus
é o único que pode fazer da pocilga insalubre da alma, um palácio. Basta que
ele nasça em seu coração; que você o reconheça e o receba em sua vida.
Uma criança nascida
em Belém e não em Jerusalém
O primeiro sinal de morte que permeia o Natal, a celebração da
vida pode ser percebida na mensagem angelical aos pastores. Em Lucas 2.9-21, o
anjo se apresenta e lhes dá a boa notícia que não deveria ser restringida a
alguns poucos ou uma elite. Era uma notícia para todo o povo. E a primeira
informação, o primeiro sinal era de que o Messias havia nascido na Cidade de
Davi, isto é, Belém.
Não seria melhor um rei nascer em Jerusalém? A capital era
Jerusalém, ali estava o Templo e o palácio do rei Herodes. Os negócios, a
riqueza, o poder, enfim, a vida nacional e religiosa acontecia em Jerusalém! Tanto
que foi óbvio aos magos, mais tarde, virem procurar o que era nascido Rei dos
Judeus diretamente em Jerusalém, chegando ao palácio do rei Herodes.
Além de ser a cidade onde nasceu o rei Davi – uma das menores
cidades de Judá, há dez quilômetros ao sul de Jerusalém – o nome Belém
significa “casa do pão”. Miquéias profetizou cinco séculos antes que ali
nasceria o Messias, Mq 5.2; Mt 2.5,6. Não se elabora um pão sem que os grãos
sejam esmagados a ponto de virar farinha. Jesus se autodenominou “Pão da Vida”,
Jo 6.33,48,51; e comparou o pão ao seu corpo, durante a Ceia, Mt 26.26. E
também, referindo-se à sua própria
morte, comparou-se a um grão de trigo que deveria morrer para produzir muito
fruto, Jo 12.24. Aqui está um primeiro sinal do seu sacrifício.
Uma criança envolta
em faixas (ou panos)
O
segundo sinal de morte na celebração da vida está no mais básico dos cuidados
maternais. Basta que reconheçamos que as primeiras vestes deste bebê – que veio
solucionar o que os adultos eram totalmente incapazes de fazer – seriam
semelhantes às que o vestiriam em sua morte: encontrareis uma criança
envolta em faixas, Lc 2.12; tomaram, pois, o corpo de Jesus e o envolveram em
lençóis, Jo 19.40.
Os
lençóis nos quais o enrolaram em sua morte foram ensopados com cerca de trinta
e cinco quilos de uma pasta composta de mirra e aloés, costume judaico de
preparação de corpos para a sepultura, Jo 19.39,40. Aquelas faixas de tecido,
embebidas na goma perfumada e oleosa, ficaram endurecidas ao redor do corpo de
Jesus. Foram elas que conferiram aos olhos de João e Pedro a primeira certeza
de sua ressurreição: jamais se retiraria um corpo embrulhado naquelas condições
deixando os lençóis enrolados como um casulo murcho. O corpo misteriosamente
passou pelo tecido enrolado. Por isso, depois que viram, creram! Jo 20.6-8.
Em figura, desde que chegamos ao mundo somos envolvidos em
faixas que nos impedem o movimento no espírito em direção à Deus. São panos que
antecipam a imobilidade da morte. O pecado nos imobiliza para Deus. Mas à
semelhança de Lázaro, Jo 11.1-45, o amigo de Jesus que foi ressuscitado por ele
depois de quatro dias morto, ao ouvir de Jesus a alta voz chamando à porta de
nosso sepulcro, recebemos vida e saímos do túmulo, enrolados em panos mortais,
necessitando de ajuda para nos desvencilharmos deles, mas cheios de vida pela
palavra recebida em nosso interior.
Uma criança deitada
O terceiro sinal de morte presente na historia da encarnação
expressa-se na palavra “deitada” que, no grego, é também usada para indicar
alguém sepultado. Isto já seria um sinal suficiente para o enfoque que temos,
mas ainda há mais. Metaforicamente a palavra é usada para designar alguém que,
pela vontade de Deus, é colocada em uma posição-chave, numa circunstância ou
situação específica, para cumprir uma finalidade. No campo das metáforas,
usa-se ainda esta palavra para indicar alguém sob o poder do mal ou mantido em
submissão pelo diabo.
Que Jesus foi sepultado e ressuscitou ao terceiro dia, já
sabemos. Porém, entender que Jesus foi colocado por Deus sob o domínio do mal
ou em submissão ao diabo, parece uma incoerência. Afinal, Jesus
jamais cedeu ao mal ou se submeteu ao diabo na essência, pois, nunca pecou e
Satanás jamais obteve direito legal sobre ele. Não fosse assim, não teria ele
poder para nos livrar deste cativeiro.
Porém, o
Pai estrategicamente, “deitou” Jesus no lugar de trevas, chamado de “região da
sombra da morte”, que é este mundo, Is 9.2. Jesus foi introduzido em nosso meio,
mergulhou, batizou-se, imergiu, sepultado na morte e no pecado humano. Nesse sentido ele pagou o preço, submetendo-se
à condenação da Lei e deixou-se levar como oferta pelo juízo do qual Satanás se
utilizava para nos escravizar, Jo 10.17,18. E Jesus entregou-se à morte em
sacrifício em nosso lugar. Ele não tinha pecado, mas submeteu-se ao batismo
como se tivesse. Não era digno de morte, mas deixou-se levar a ela, como um
mortal, desapegado de sua divindade e esvaziado de si mesmo, Fp 2.6-8. Na
fragilidade submissa de uma criança deitada estava o meio, o anúncio e a
segurança de nossa eternidade. Aquele que se submeteu ao mal para nos livrar e
salvar é digno de nossa eterna adoração, submissão e devoção. Não há outro que
o mereça!
Uma criança numa manjedoura
O
quarto sinal de morte escondido na história do nascimento de Jesus está no mais
simplório berço que o casal Maria e José dispunham: a manjedoura. A manjedoura
é o lugar onde se colocavam a forragem, o pasto, o alimento para o rebanho. Em
geral, a manjedoura era lavrada nas rochas – paredes das grutas – e não
construída com tijolos de argila ou armações de madeira. Não tendo berço ou
cama, Jesus foi deitado como um alimento para os rebanhos, como pasto para
animais, como forragem para bestas feras. Num lugar de alimento de animais
dormiu o Criador de todas as coisas.
Quando Jesus partiu o pão na Páscoa ou disse que era o Pão da Vida, referia-se a ter o corpo ferido para que sua vida chegasse a nós; quando partilhou o Cálice de vinho, referiu-se a seu sangue vertido por muitos, Jo 6.55; Mt 26.28. Ele afirmou que comendo do pão de sua carne e bebendo do vinho de seu sangue temos a Vida Eterna, Jo 6.51,52. Ele é o alimento que deve ser consumido por nós como suprimento suficiente dado por Deus para nos resgatar à eternidade. Leia o que Jesus mesmo disse sobre a importância de tê-lo como alimento para a alma: Jesus, pois, lhes disse: Na verdade, na verdade vos digo que, se não comerdes a carne do Filho do homem, e não beberdes o seu sangue, não tereis vida em vós mesmos. João 6:53
O desafio
Os
pastores, depois de experimentarem o fenômeno e receberem estas informações,
partiram para confirmar tudo o que ouviram. Foram até Belém, encontraram o
casal com a criança e “vendo-o, divulgaram a palavra que acerca do menino lhes fora dita; E
todos os que a ouviram se maravilharam do que os pastores lhes diziam”, Lc 2.17,18. Os pastores confirmaram
a boa notícia e proclamaram tudo o que ouviram. Depois, voltaram ao
campo, para seus rebanhos, glorificando e louvando a Deus.
Agora
você também está ciente desta boa notícia. Espero que tenha ousadia para confirmar
estas informações por si mesmo. A história do Natal está repleta de sinais de
morte que, na verdade, nos pertenciam e, talvez, ainda esteja presente em nós,
em nossos atos, em nossas famílias e lares.
O
convite é para que você coma de quem resolveu passar fome; liberte-se através
de quem se entregou para ser preso; levante-se livre através de quem se deitou
na morte; seja íntegro através de quem escolheu ser moído. Tudo por você. Para que pudesse celebrar a vida.
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