AS MULHERES NOS MINISTÉRIOS
Joubert de O.
Sobº
Salvo
algumas exceções, as culturas mais antigas sempre colocaram as mulheres em
segundo plano. A história nos mostra esta realidade ao longo dos séculos. Ainda
hoje, em algumas culturas, as mulheres são consideradas como uma propriedade do
homem, podendo ser negociadas por dinheiro ou outros valores. Em alguns países
as mulheres são obrigadas a se submeterem aos processos de deformação física
objetivando mudanças estéticas em partes de seu corpo, tais como pescoço, pés,
etc., outras, ainda na adolescência, passam obrigatoriamente por rituais
cirúrgicos que mutilam seus corpos na intimidade marcando-as por toda a vida.
Em
resposta, alguns movimentos de mulheres passaram a opor-se a tudo o que
consideram opressão masculina, lutando por libertação e por igualdade de
direitos. Esta revolta gerou o movimento feminista que propõe a reversão da
sociedade masculina pela feminina, buscando vingar todo o sofrimento da mulher
nos séculos.
Sem
dúvida as igrejas refletiram, no trato com as mulheres, as culturas onde
estavam inseridas. Algumas igrejas colocaram as mulheres como expectadoras dos
acontecimentos e ações, não permitindo nenhuma participação ativa. Outras
passaram a exigir da mulher condutas rígidas, não aplicáveis na mesma proporção
aos homens. A fim de contrariar os abusos sofridos, algumas igrejas partiram
para outro extremo, conduzindo a mulher às funções não previstas no ensino
bíblico.
A
Bíblia nos esclarece o papel da mulher, quer na sociedade, na família, na
igreja, quer no reino de Deus. A visão bíblica equilibra as tendências da
sociedade, não desprezando a mulher nem a colocando sob responsabilidade que
não lhe foi requerida. Cabe-nos descortinar o valor, a honra e o respeito
devido à mulher, conforme o próprio Senhor Jesus o fez, por vezes contrariando
a cultura judaica, para permitir à mulher a livre participação na salvação, na
responsabilidade de evangelização do mundo e no cumprimento de seu papel, o
qual não pode jamais, por impossibilidade ou incompatibilidade, ser ocupado
pelo homem.
A MULHER NA CRIAÇÃO
A
mulher foi criada no propósito de complementar o homem e desfazer os males de
sua solidão, Gn.2.18. O homem não seria completo sem a mulher e sua presença
foi fundamental para a felicidade de ambos oriunda da comunhão em oposição à
solidão que não era boa. Nessa condição a mulher estaria com o homem no governo
da criação, participando plenamente das ações e da responsabilidade do homem,
Gn.1.28.
Após
a queda no pecado uma das consequências em relação à mulher foi a necessidade
dela estar sob a cobertura espiritual, governo e domínio do homem, Gn.3.16.
Certamente esta posição foi devido a razões espirituais, como forma de
preservação da mulher, como se entende em 1Co.11.3-10. Entende-se que,
sem esta cobertura, a mulher estaria em piores condições. Por outro lado ela
passou, necessariamente, a estar sob a tutela do homem, agora, contaminado com
o vírus do pecado e à mercê da corrupção física, moral e espiritual, distante
de Deus e de seu propósito. Daí os abusos da história, já referidos.
Uma
vez que Jesus veio restaurar a comunhão da humanidade com Deus, entende-se que
a mulher deve, em Cristo, assumir uma nova posição no reino de Deus, diferente
da posição opressiva que as culturas e as sociedades impuseram, porém numa
função determinada pelas escrituras, 1Co.11.3, sem desprezo por sua posição. A
mulher possui a sua própria excelência, uma excelência distinta da do homem.
A MULHER NO ANTIGO
TESTAMENTO
A
sociedade judaica, culturalmente, sempre foi androcêntrica, isto é, centrada no
homem. Os valores sociais eram voltados para o homem estando a mulher sempre
colocada em segundo plano. No entanto, ao receber a Lei percebe-se que as
orientações de Deus não excluem as mulheres. Apesar da tendência cultural, a
mulher participa da Aliança com Deus possuindo também seus direitos. As
mulheres de Israel deveriam:
· guardar a Lei, Dt.17.2-5;
29.18-21; 31.12-13;
· oferecer sacrifícios e
ofertas, Lv.12.6; 15.29; Jz.13.15ss; 1Sm1.24ss;
· oferecer orações e votos,
Gn.22.22; 16.17;Jz.13.3; 1Re.14.1;
· participar do culto através
dos cânticos e danças no santuário; 1Sm.1;2Re.4.23.
Ao
longo da História do povo de Israel vê-se que a mulher circunstancialmente
ocupou espaço de liderança, interferindo em situações específicas, sendo
utilizadas por Deus de forma especial para o benefício de seu povo, vide os
casos de Mirian, Ex.15.20,21, Débora, Jz.4.4-7, Ulda, 2Re.22.14-20, Abigail,
Ester, Rute, etc.
Por
fim as escrituras nos apresentam o ideal de mulher no Antigo Testamento. Essa
mulher descrita em Provérbios, cap. 31, não corresponde à imagem da mulher
explorada, desprezada, abusada, negociada por valores quaisquer. Ela é uma
mulher ativa, responsável e muito amada por seu esposo.
A MULHER NO NOVO TESTAMENTO
Nos
tempos do Novo Testamento a situação da mulher tornou-se pior. Os líderes
judaicos, ao interpretar a Lei, tornaram lei as suas interpretações. O Talmude,
que traz as tradições, costumes e doutrinas do povo hebreu é um grande exemplo.
Nele estão relatados tendências do pensamento da época em relação à mulher,
tais como sua inferioridade geral em relação ao homem. Considerava-se
impossível que uma mulher absorvesse qualquer verdade mais profunda. Alguns
rabinos chegaram a duvidar de que as mulheres tivessem alma. Citações tais como: “Quem ensina a Torá à sua filha é como se
lhe ensinasse obscenidades”, ou, ”É
preferível queimar a Torá do que ensiná-la a uma mulher”, demonstram o
problema.
O
Talmude dizia: “Não converse muito com
mulheres pois isto vai levá-lo finalmente a comprometer sua castidade”,
então os homens evitavam falar com mulheres em público, até mesmo com suas
esposas. Nestes tempos, ao contrário das orientações do AT, as mulheres não
podiam participar ativamente de qualquer culto nas sinagogas. Apenas poderiam
estar presentes, passivamente, no lugar reservado a elas, geralmente uma
galeria, o que garantia a separação dos sexos. Conclui-se diante disto que a
posição e o status da mulher declinou muito em relação ao AT, e é justamente
neste ambiente em que Jesus se manifesta.
JESUS E AS MULHERES
Em Jesus e no cristianismo a
dignidade da mulher foi redescoberta e seu valor reconhecido. Os valores do
casamento, sua santidade e significação foram exaltados como nunca antes. Jesus
não considera nem trata as mulheres como objeto, mas como pessoas. Ele
demonstra que o valor intrínseco das mulheres como pessoas é igual ao dos
homens. Através de seu ensino e, sobretudo pela prática, Jesus contrariou a
severidade judaica em relação à subordinação das mulheres, passando a tratá-las
de um modo radicalmente diferente indicado nas seguintes ocasiões:
· Mt.5.28 - “...qualquer que olhar para uma mulher com
intenção impura, no coração já adulterou com ela” – Para os judeus,
qualquer tipo de contato social com as mulheres poderia trazer o desejo sexual
incontrolável, inevitável e irresistível (isto porque, para eles, a mulher
tinha a função principal de parceria sexual, tanto que os homens quase sempre
eram considerados inocentes quando seduzidos por mulheres perversas). A mulher
era considerada como um perigo constante, um objeto capaz de despertar desejos
no homem, por isto o removê-la o máximo possível dos olhares públicos,
segregando-as por fim. Isto é, as mulheres pagavam pela impureza do coração dos
homens. Jesus contraria a ideia de que o desejo é inevitável. O que deve ser
vencida é a impureza. Portanto, Jesus aceita mulheres no convívio com o grupo
de discípulos porque espera que seus discípulos controlem seus desejos.
· Mc.10.12 – “...se ela
repudiar seu marido e casar... comete adultério” – Para os judeus, cometer
adultério contra a mulher era um conceito pouco comum. Jesus contraria a ideia
da mulher como um objeto que pode ser abandonado segundo a vontade do homem.
Pelo contrário, tanto o marido quanto a mulher são responsáveis pela união
ordenada por Deus, Mt.19.4-9; 5.31,32; Lc.16.18.
· Lc.13.16 – “...filha de
Abraão” – Para enfatizar que um homem era membro da comunidade da aliança
usava-se especialmente o título “filho de Abraão”. As mulheres não eram consideradas
cidadãs da nação, mas parece que Jesus usou o título para contrariar o desprezo
dos presente por aquela mulher doente e destacar o valor que Ele e Deus lhe
davam.
· Lc.7.39 – “...a mulher que
lhe tocou...é pecadora” – Além de tocar em mulheres ou tomá-las pela mão,
Lc.13.15; Mc.1.31, permitiu que mulheres o tocassem, até mesmo as que eram
reconhecidas como imorais. Ele não passou por rituais de purificação como era
exigido por lei em alguns casos. Ele demonstrava ser possível homens e mulheres
conviverem como seres humanos sem concupiscência.
· Mulheres nas parábolas –
Jesus usou muito a mulher para ensinar através de parábolas, ao contrário dos
rabinos que evitavam até mesmo fazer menção delas. Falou sobre o fermento para
fazer pão, sobre o parto, o moer de cereais, donas de casa, viúvas, convidados
de um casamento, etc. Com elas ilustrou temas tais como: vigilância,
perseverança na oração, misericórdia e alegria de Deus com a salvação do
perdido, etc., demonstrando que eram parte integrante da ação salvadora de Deus
e valorosas em si mesmas.
· Lc.11.27,28 – As opiniões
das mulheres raramente eram consideradas no judaísmo, mas o fato de, neste
texto, Jesus considerar, comentar, demonstra que se importava com o pensamento
daquela mulher.
· Lc.8.1-3; Mt.27.55,56;
Mc.15.41 – Enquanto os rabinos evitavam a companhia de mulheres - até mesmo as
que contribuíam com seu sustento, Lc.20.47 – Jesus era acompanhado por muitas
mulheres que o serviam com seus bens.
· Conversas teológicas com
mulheres – A Samaritana, Jo.4.26 –
Enquanto que os líderes judaicos estavam sempre questionando a Jesus querendo
que Ele se revelasse, Jesus contraria o costume e conversa com uma mulher
samaritana em público, revela seu pecado com franqueza, ensina-a e declara a
ela, sem rodeios, ser Ele o Messias, para espanto dos discípulos. A siro-fenícia, Mt.15.21-28; Mc.7.24-39
– Jesus conversa com ela e desperta seu entendimento e fé. Maria e Marta, Lc.10.38-42; Jo.11.20-33 – Maria foi sua aluna,
Marta também (fez a confissão semelhante à de Pedro), o que era um despropósito
e uma vergonha para os rabinos. Jesus
Ungido, Mt.26.6-13; Mc.14.3-9; Jo.12.1-8 – Jesus repreendeu a falta de
entendimento espiritual dos discípulos expressando que Maria de Betânia estava
compreendendo o que fazia na realidade.
· Na paixão e na Ressurreição
– As mulheres o acompanharam em todo o tempo de sua morte e foram as primeiras
a testemunharem de sua ressurreição, apesar de serem desdenhadas, Lc.23.9;
Jo.20.2,18; Lc.24.10-11. Os discípulos foram repreendidos por sua incredulidade
pois não creram nas palavras das mulheres, Mc.16.14.
AS MULHERES NA IGREJA
Carregando sobre si a herança de
distância da instrução religiosa, da restrição à participação ativa nos cultos
e das práticas religiosas pagãs, a mulher, tanto judia quanto gentia, se achega
à igreja. Passagens como 1Co 14.33-35 e 1Tm 2.8-15 passaram a exercer uma força
limitante à ação da mulher na igreja por sua interpretação isenta de análise
acurada do texto e da circunstância cultural vigente na época. Portanto analisemos
cada passagem no seu texto, contexto e história.
1. Considerações sobre 1Co.14.33-35 – “...As mulheres estejam caladas nas igrejas; porque lhes não é
permitido falar; mas estejam sujeitas, como também ordena a lei. E, se querem
aprender alguma coisa, interroguem em casa a seus maridos; porque é indecente
que as mulheres falem na igreja”
· Não podemos concluir que
Paulo esteja dando uma ordem absoluta de silêncio total para todas as mulheres
em todas as igrejas. Se assim fosse estaria em contradição com suas próprias
orientações de 1Co 11.5,13 sobre como as mulheres deveriam orar e profetizar em
público. Se esta proibição fosse absoluta as mulheres não poderiam orar, nem
profetizar em nenhuma igreja, At 2.17; 21.9.
· A palavra “mulheres” mencionada nestes versículos
é do grego gune que significa “uma esposa”, portanto são instruções
para esposas.
· A palavra “falar” usada por Paulo em “...não é permitido falar...” é laleo que
significa: uma arenga prolongada ou casual; gabar-se; bradar (gritar a alguém
do outro lado da sala, p. ex.) sem um decoro ou respeito apropriado para com os
outros.
· A palavra “ordena”, em contraposição à laleo em “...como também ordena a lei...”,
é o mesmo que a palavra “diz” do grego lego,
que significa: dispor (uma idéia ou doutrina) em palavras que geralmente são de
um discurso sistemático ou estabelecido.
· Paulo queria evitar a todo
o custo que a confusão, a indecência e a desordem estivessem presentes no culto
dos coríntios, 1Co.14.33,40. Muitas das mulheres recém-convertidas tinham vindo
dos cultos pagãos onde a bebedice e até mesmo prática de orgias sexuais eram
consideradas formas de culto aos deuses. Paulo apelava ao autocontrole e decoro
total destas mulheres sem instrução que, para aprender, deveriam parar de
gritar desrespeitosamente nos cultos e serem pacientes em tirar suas dúvidas em
casa com seus maridos. Na carta aos Coríntios vemos Paulo orientando sobre os
comportamentos mais básicos, demonstrando que eles eram carentes de padrões de
relacionamento entre si e com Deus.
2. Considerações sobre 1Tm.2.8-15 – “...A mulher aprenda em silêncio, com toda a sujeição. Não permito,
porém, que a mulher ensine, nem use de autoridade sobre o marido, mas que
esteja em silêncio...”
· Paulo trata neste texto do
comportamento e papel do homem e da mulher no culto público, novamente
preocupado com os aspectos da decência e ordem, v.8-10.
· A palavra grega para “silêncio”, hesuchia, pode também significar “tranquilidade”, tal como
traduzida em 1Tm.2.2 e 2Ts.3.12. A palavra grega para “aprender”, manthaneto,
tem o sentido de “aprender através de perguntas”, o que mudaria o sentido
proibitivo: “...a mulher aprenda fazendo
perguntas com tranquilidade, com toda a sujeição...”, uma atitude de
aprendizes, alunas. Vale lembrar que tanto no mundo greco-romano quanto no
judaísmo as mulheres normalmente não recebiam instrução. De modo que a ênfase
de Paulo recai na aprendizagem das mulheres, contrariando as culturas
mencionadas.
· A igreja de Éfeso havia
sofrido uma invasão de doutrinas errôneas e ensinos heréticos que ameaçaram sua
vida. Paulo, então, toma firmes medidas necessárias para corrigir a situação.
Estas medidas consistiam em remover e restringir todos os mestres sem
qualificação - certamente havia mulheres neste grupo - 1Tm 1.3,7; 6.3-5; Tt
1.10,11 e adotar o ensino vigoroso e saudável, 1Tm 4.11; 2Tm 2.25; 4.2; Tt 2.1,
à pessoas confiáveis, homens e mulheres, que receberiam instrução a fim de
instruir a outras pessoas, 2Tm 2.2; Tt 2.1-5.
· A palavra “ensinar” do
grego, significa “instruir ou ensinar doutrina”. Na situação de ataques
heréticos a que foram alvos, era necessário estabelecer verdadeiras doutrinas e
extirpar as falsas. Esta função pertencia ao Conselho Apostólico e não às
mulheres, At.15.1-35.
· As mulheres tornaram-se
alvos principais das influências heréticas, estando mal aparelhadas e
despreparadas para ensinar, uma vez que não possuíam instrução como os homens,
nem estavam treinadas para discernir a verdade. Por esta razão Paulo insiste
que elas aprendam, possivelmente
dando a entender que, naquele momento (restrição
temporária e local, e não absoluta), enquanto não estivessem aptas, ele não dá
permissão às mulheres para ensinar. Caso o fizessem cairiam no mesmo erro de
Eva, que foi enganada e procurou ensinar a Adão algo que ela mesma não compreendia.
Para saírem desta situação, deveriam aprender e alcançar a maturidade.
· Quanto à ordem de não
exercer autoridade sobre o homem (marido), Paulo usa uma palavra forte que não
se repete mais no Novo Testamento, authontein,
que significa “exercer domínio sobre alguém em proveito próprio”. Paulo está
proibindo as mulheres de controlar os homens (maridos). Jesus proibiu esse
comportamento aos discípulos, Mt.20.25,26, bem como o próprio Paulo, 2Co.1.24.
Um genuíno cristão não pode ser uma pessoa dominadora, seja homem ou mulher. No
caso, a mulher não deveria usurpar, apossar-se indevida e violentamente de uma
responsabilidade que cabe ao homem (marido).
· Paulo não estaria fazendo
uma proibição permanente e universal às mulheres em relação ao ensino por causa
de sua “natureza facilmente suscetível ao engano, inclinada à fraude” pelas
seguintes razões:
a) as mulheres têm permissão para ensinar crianças
e outras mulheres, 2Tm.1.5; 3.14; 2.3-5. Se a ideia da frágil natureza fosse
argumento, ela não poderia nem mesmo participar do magistério, que é um período
importantíssimo na formação do indivíduo;
b) ele mesmo instrui e exorta em suas epístolas que
os crentes de modo geral, homens e mulheres, devem ensinar uns aos outros, Cl
1.28; 3.16; Rm 15.14; 1Co.1.5; 14.26; Ef 5.19; 2Tm 2.2. Não fosse assim,
nenhuma destas passagens poderiam ser aplicadas às mulheres;
c) Paulo trabalhou livremente com muitas mulheres,
algumas descritas como “cooperadoras no evangelho”;
d) as mulheres profetizavam, o que no Novo
Testamento, possui um status maior que o do ensino, quanto à função, 1Co 11.5.
3. Considerações sobre a sujeição à “cabeça”, Ef 5.21-24 – “Sujeitando-vos uns aos outros no temor de Deus. Vós mulheres,
sujeitai-vos a vossos maridos, como ao Senhor; porque o marido é a cabeça da
mulher, como também Cristo é a cabeça da igreja: sendo ele próprio o salvador
do corpo. De sorte que, assim como a igreja está sujeita a Cristo, assim também
as mulheres sejam em tudo sujeitas a vossos maridos.”
3.1 - A
Questão da submissão
· A palavra “submissão” usada
por Paulo significa uma “atitude voluntária de doação, cooperação; ato de
assumir responsabilidade, ou assumir determinado ônus, peso ou fardo”.
Significa, também, “honrar e respeitar outra pessoa, preferir outro a nós
mesmos”. Refere-se à uma ação voluntária de consideração e respeito a outros
isenta de imposição, força ou coação. Esta descrição nos mostra mais uma
expressão do amor divino do que sujeição à uma autoridade a quem se deve
obediência cega.
· O verso 21 de Efésios 5
está intimamente ligado ao 22 devido ao fato de, no texto grego, o v.22 não
possuir nenhum verbo. O leitor grego consideraria então o verbo do verso anterior. Isto indica
que o ensino que Paulo dá a respeito de marido e mulher começa no v.21 e não no
22, mostrando que o assunto é a mútua submissão, expressão do amor (v.25), que
busca o interesse do outro antes do seu próprio.
· Embora hoje se tenha a ideia
de que o marido deve dominar e a mulher se submeter, devemos entender que amor
e submissão são indissociáveis. Não se consegue amar sem dar preferência ao que
se ama. Justamente o ato de glória do amor é a renúncia voluntária dos desejos
e interesses próprios, 1 Co.13.5; Jo.12.24. Se a mulher ama, então se submete,
considera, cede e serve ao esposo. Da mesma sorte, se o marido ama - como é seu
dever, enfatizado no v.25 – então, se submete, considera, cede e serve a esposa
também. É a submissão mútua referida no v.21. Em 1Pe.3.1-7, o apóstolo menciona
da mesma maneira a necessidade de submissão das mulheres aos maridos
apresentando o modelo de Sara que se submeteu, isto é, honrou, considerou e respeitou à Abraão, dedicando-se
voluntariamente aos seus interesses antes dos seus. Sabemos, no entanto que
Abraão também se “submeteu”, quando considerou e cedeu aos interesses e desejos
de Sara, Gn.21.11,12, atitude indicada no v.7 de 1Pedro 3 (“Igualmente” = da
mesma maneira). Afinal, ambos são “co-herdeiros da graça da vida”.
· Outro entendimento da
palavra “submissão” é a daquele(a) que está debaixo da mesma “missão” do outro.
A “missão” do marido é considerar, amar e dedicar-se voluntariamente à vontade
de Deus. Sua esposa deve então estar debaixo desta mesma missão, submissa com
ele.
· Jesus é nosso maior modelo
de submissão, amando-nos tornando-se servo, Jo.13.1-17, esperando que façamos
como Ele fez, v.15. Ele espera que amemos uns aos outros como Ele nos amou,
v.34, servindo. Ter uma atitude de servo para com os irmãos não condiz com a
atitude de domínio que muitos têm para com suas esposas.
3.2 - A
Questão da metáfora “cabeça”
· Muitos entendem que ser
cabeça é exercer a chefia, a soberania de uma posição ou autoridade superior,
interpretação, esta, aceitável na língua portuguesa. Porém, devemos lembrar que
Paulo escrevia em grego aos que possuíam pensamento grego. Na cultura grega,
pensava-se que o coração fosse o órgão de domínio. Nele estavam a sede da
vontade, das decisões, das emoções, etc. A cabeça, no entanto, tinha o papel de
servir ao corpo concedendo-lhe vida, uma vez que o sentido figurado de cabeça, kephale, seria “nascente” ou “fonte de
vida”. Esta é a ideia que a palavra
comunica em 1Co.11.3 e Ef.5.23. Várias ideias são relacionadas à “cabeça”, tais
como: fonte, origem, coroa, preenchimento, soma, total. Assim ela seria
entendida no grego secular no tempo de Paulo, mas nunca como autoridade ou
posição superior.
· Desta forma, Jesus é cabeça
da igreja, Ef.1.22,23, como aquele que provê plenitude para o corpo, figura
utilizada para demonstrar que Ele inclui a igreja na sua autoridade, v.20 e 21,
e não que ela está debaixo de sua autoridade, ainda que esteja, mas não é o
objetivo da metáfora. Em Ef.4.15,16 e Cl.2.19, da mesma maneira. A ideia é
daquele que provê o necessário para o crescimento, nutrição, edificação do
corpo, como fonte de vida que traz ao corpo capacidade de crescimento em amor.
Em Ef.5.22-33, cabeça, comunica ideia de nutrição, de que a autoridade de Jesus
é comparável ao seu amor, desvelo e nutrição para com a igreja. Cl.1.15-20, nos
dá a ideia de origem, começo da própria igreja, bem como 1Co.11.3 apresenta a
origem, base, derivação de Cristo, do homem e da mulher.
· O homem neste contexto é
aquele que é a origem da vida da mulher na criação, quanto a ser instrumento
para esta finalidade, Gn.2.21; não esquecendo que Cristo é o primogênito de
toda a criação.
· No relacionamento marido e
mulher, Ef.5.21-33, o marido, como cabeça é o que provê para sua esposa o
sustento, alimento, apoio, vinculação consanguínea, amor, cuidado e
crescimento, semelhantemente à Jesus que é fonte de vida da igreja de maneira
criacional, nutritiva, amorosa e sustentatória. Jesus amou dando a vida. Esta é
a “chefia”, a autoridade de Jesus sobre a Igreja: seu auto-sacrifício amoroso,
que paga o preço para redimir. Aqui, a metáfora do corpo também é utilizada
como ideia de reciprocidade, onde a mulher, como o corpo, recebe e dá amor de
maneira semelhante, auto-sacrificial, submetendo-se voluntariamente à parceria
de doação e recepção.
· Esta metáfora distancia-se
da questão da autoridade, soberania ou posição de chefia, exaltando a questão
da união entre cabeça e corpo em relação harmoniosa. A exemplo do Pai em
relação ao Filho, vemos o Filho submetendo-se ao Pai em amor voluntário, como
fonte de vida e origem e não como chefia, patrão ou soberano distante.
CONSIDERAÇÕES
Temos descrições na Bíblia
de atuações relevantes das mulheres em várias áreas e ministérios fundamentais
no reino de Deus. A título de exemplo destacamos abaixo apenas algumas ações de
mulheres mencionadas nas Escrituras.
Diaconisa
Em Rm 16, o apóstolo Paulo
faz uma lista especial, chamada pelos comentaristas bíblicos de “galeria dos
crentes do Novo Testamento” em comparação à “galeria do Antigo Testamento”
descrita em Hb 11. Dos nomes desta lista histórica, um
terço é de mulheres, a revelar o lugar proeminente que elas ocupavam na igreja
de Roma. Paulo foi pioneiro no reconhecimento da função das mulheres no serviço
cristão.
Paulo
encabeça a lista dando testemunho de Febe (v. 1,2) conferindo-lhe grande
honra. “É apresentada como irmã, isto é, da família espiritual do
Senhor, sugerindo igualdade de privilégios na irmandade, como serva da
igreja em Cencréia, isto é, diaconisa
(cfr. Fp 1.1), e como protetora (gr. prostatis «patrocinadora;
mulher colocada sobre outras»), a implicar que era uma senhora de recursos, que
trabalhara no meio da população das docas, no porto de Corinto. Acredita-se que
Febe estava de viagem para Roma e Paulo confiou aos seus cuidados esta preciosa
epístola, para que a fizesse chegar com segurança ao seu destino” (Novo
Comentário da Bíblia – Vida Nova).
Profetas
Há várias menções na
Bíblia: Miriã, ex 15.20; Hulda, 2Re 22.14; Débora, Jz 4.4 e a esposa de Isaías,
Is 8.3. No Novo Testamento havia mulheres que profetizavam: as filhas de Ágabo,
At 21.9; mulheres na igreja de Corinto, 1Co 11.5; a promessa de Joel cumprida
em At 2.18.
Mestras
Em Tt 2.3,4, Paulo orienta que
as mulheres mais idosas devem cumprir um ministério de ensino entre as mulheres
mais jovens. Priscila e seu marido,
Áquila, ensinaram Apolo, At 18.24-26.
Evangelistas
Se considerarmos a prática
e não a função eclesiástica, a mulher samaritana cumpriu um papel de
evangelista ao atrair seus vizinhos a Jesus, Jo 4.28-30,40-42.
Enfim,
sabemos que no Novo Testamento, Jesus nos deixou apenas princípios sobre a
constituição da igreja, mas não nos apresentou um modelo detalhado de sua
formação, como o apresentado por Deus a Moisés no Antigo Testamento. Portanto,
cada igreja, ao estruturar sua organização deve procurar aplicar para si
critérios que respeitem os princípios evidentes nas Escrituras em relação às
mulheres e seu serviço fundamental a Deus, em seu reino e na Igreja.
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