sexta-feira, 24 de agosto de 2012

IDENTIDADE - Quando o penteado não combina

IDENTIDADE 
Quando o penteado não combina



Pr. Joubert de Oliveira Sob°

Na minha adolescência passei por períodos amargos e ao mesmo tempo cômicos. Meu pai ficou cego e, por conseguinte, perdeu a profissão de fotógrafo. A estrutura familiar se manteve firme, mas as perspectivas evaporaram-se. Foi inevitável. Eu e meu irmão menor sofremos isto muito de perto. Particularmente, perdi meu horizonte ao mesmo tempo em que esfriei meu relacionamento com Deus. A partir dos 14 anos, fiquei à deriva, à mercê das ondas, da moda, dos modelos da sociedade, da massificação. Foram as misericórdias de Deus e as orações de minha mãe e minha avó que me pouparam de maiores prejuízos. Foi um inverno muito longo, escuro, triste e sofrido.

Forçando o penteado
Naqueles dias assisti a um filme cujo ator principal fez muito sucesso entre os jovens. Grande parte da juventude daquela década se tornou seu fã. Alguns, mais que admiradores, se tornaram imitadores. Comecei a ceder àquela febre. Era uma pressão muito grande. O sucesso daquela personagem era o outro extremo da vida real, difícil, que eu levava.

De repente, me vi diante de um espelho mudando meu penteado, tentando imitar o astro. Meus cabelos, naturalmente, não nasceram para aquele tipo de penteado, mas eu forcei. “Por que meu cabelo não pode ficar igual ao dele?”, pensava enquanto me esforçava para deixar as mechas inchadas o mais semelhante possível.


Enchi-me de coragem e saí de casa. Os meninos da rua, meus vizinhos, quando me viram com o novo penteado, riram muito. Com certeza não foi por inveja... Eu havia cedido à imagem. No fundo era triste. Comecei a não gostar de mim por causa daquilo. Além de não ter o mesmo tipo de cabelo, não tinha dinheiro, não tinha roupas, não tinha o carro, muito menos as namoradas... Tornei-me um frustrado, duro e mal penteado!

Triste mesmo foi que depois de pouco tempo, o mesmo ator foi lançado ao sucesso em outro filme, só que com um penteado diferente, mais difícil ainda de ser imitado. Aí eu me senti ridículo, mas, muito ridículo. Meu penteado forçado perdeu a razão de ser e me vi vivendo uma mentira, uma fantasia que invadia a minha vida, desprezava o que eu era e desvalorizava minha individualidade. Como você pode ver, este é um daqueles episódios da vida que a gente não conta para todo mundo, por isto eu contei só para você.

Virtudes e fragilidades
Lembrei-me deste fato ao pensar em nossa igreja e sua história. Nossa identidade se apresenta com base nas características de nosso chamado, na vivência, nas experiências, vitórias e lutas, mas muito mais na “medida da fé que Deus repartiu a cada um”, Rm 12.3. As igrejas em geral têm suas características, sua individualidade e sofrem influências entre si. Vide as igrejas do Apocalipse 2 e 3. Cada uma com suas virtudes e deficiências, necessitando das palavras do Senhor. Mas, à semelhança do direito que temos de nos resguardar, como indivíduos, com características próprias, assim também cada igreja tem o direito de se resguardar em suas características dadas por Deus, individualmente. Não que não creia na unidade da Igreja. A unidade do Corpo de Cristo, que o tem como Cabeça, é uma verdade patente, queiram ou não, creiam ou não, pratiquem ou não. Mas esta unidade deve respeitar os limites do espaço vital do outro, suas diferenças.

Unidade e bom senso
O fato de eu ter unidade com você não me dá o direito de entrar em sua casa, chutar o seu cachorro, estapear seu papagaio, abrir sua geladeira sem sua ordem, lavar meu carro na sua garagem, tomar banho com seu sabonete, enxugar-me com sua toalha e ainda reclamar da qualidade de seu xampu. Claro que, quanto mais amor, identificação e companheirismo, mais desejamos que a pessoa querida se sinta à vontade em nosso convívio. Aliás, a regra da educação e do bom senso é que, quanto mais liberdade recebo no relacionamento de amizade com alguém, mais devo respeitar e reconhecer os limites adequados. Este é o segredo da amizade duradoura. Não é verdade que damos maior liberdade àqueles que sabem respeitar nossa individualidade? O inverso também é real. Mantemos à distância segura aqueles que abusam de nossos direitos. Se por um lado a Bíblia nos ensina a exercer a hospitalidade, 1Pe 4.9, por outro nos ensina a retirar os pés da casa do próximo antes que ele se canse de nós e nos aborreça, Pv 25.17

Personalidade importada
Refiro-me às características que Deus imprime nas igrejas locais de acordo com a capacidade de visão e fé de cada um. Forçar a “importação” da visão, filosofia, ideologia ou revelação de outra igreja ou comunidade, pode ser tão prejudicial quanto exigir de uma criança um posicionamento de um adulto, ou vice-versa. Recebemos muitos líderes de outras igrejas nestes anos de existência. Uns enfatizavam a unidade, o relacionamento e a comunhão como resposta para a igreja, outros que o púlpito tinha que ser retirado e “jogado no lixo”, outros que os grupos caseiros eram o que importava somente, outros que o culto deveria ser outro dia que não o domingo por causa da tradição, outros que não deveríamos ter templos para nos reunir porque nós somos o templo, e assim foi.

Vi, com estes meus olhos, um pastor muito jovem receber um daqueles ensinos como se fosse a pura revelação de Deus para sua vida e ministério. Vale ressaltar que este jovem pastor dirigia uma das igrejas mais prósperas e alegres de São Paulo, da qual se ouvia muito falar. Seus cultos eram vibrantes, não havia lugar para todos, muitos cultos eram feitos por dia e percebia-se uma grande unção em sua ministração. Pois bem, ele assimilou a ideia dos grupos caseiros e cortou os cultos vibrantes de fim de semana trocando por encontros mensais, “na marra”. Na verdade ele desprezou as características que Deus havia lhe dado na condução do rebanho. Digamos que “mudou o penteado”. Passados alguns anos, ele percebeu o desvio, resolveu voltar ao “penteado” anterior e foi difícil o “cabelo se acostumar”.

Por favor, entenda, não estou entrando no mérito se grupos familiares são bons ou não, se púlpitos, templos ou certas doutrinas devem ser ensinadas ou não. Estou dizendo que Deus deu a cada igreja e à nossa igreja, em particular, uma “digital”, uma identidade que é diferente de todas as outras, e vai, justamente por estas diferenças, exercer uma função específica no Corpo de Cristo e suprir as outras partes deste Corpo em suas necessidades, assim como seremos supridos nas nossas por outra parte deste Corpo. É por isto que somos chamados Corpo de Cristo, pois somos compostos por vários membros, cada um com sua função e responsabilidade. Creio, evidentemente, que, ao longo do tempo, Deus vai acrescentando maturidade e aprimorando nossa visão de igreja, aumentando nossa fé, facilitando nosso crescimento e preservando nossa saúde espiritual a fim de que cumpramos nossa missão principal neste mundo, que é atrair vidas a Deus refletindo a imagem e o caráter de Jesus.

Fogo amigo
Por outro lado, o que é muito comum hoje é o que alguém já denominou “projeção do dom”. A pessoa (ou igreja) descobre sua característica, dom ou talento e passa a acusar a todos que não são, não fazem ou não pensam como ele. São exímios atiradores, mas que miram em alvos errados.

Não raro estes começam a tratar os irmãos como inimigos. Começam criticando algumas fragilidades reais e depois descambam a pecar contra o amor, ferindo mais que edificando e exigindo “maturidade” de todos, sendo mais rígidos que Deus, que respeita a medida da fé de cada um. Vale dizer que, em geral, os mais ferinos são pessoas que ignoram o que é “por a mão na massa” de verdade e vivem praticando fartamente o que condenam. Estes  desprezam o ensino da Palavra de que nossos reais inimigos não são nossos irmãos, mas sim, 1) a nossa carne que ama o pecado e precisa conhecer o que é mortificação, 2) o diabo que quer nos roubar, matar e destruir colocando-nos contra o Corpo, e 3) o sistema pecaminoso do mundo que voluntariamente ignora e exclui a Deus.

Numa igreja em que pastoreei, havia um grupo que amava a ação social e eu os apoiei e estimulei ao máximo. Atendiam mendigos na madrugada, doavam sopas, os traziam para o culto, mas antes lhes davam banho, encaminhavam os desejosos de mudança para casas de recuperação, emprego, etc., tudo com apoio e investimento da igreja local. Era um trabalho maravilhoso e exemplar.

Porém, um dia pedi que falassem à igreja, mostrando os detalhes do ministério. Tudo começou bem até que resolveram enveredar o discurso pela senda do “eu faço e você não faz”. Cada um que falava recriminava, criticava e condenava mais os membros por não fazerem o que eles faziam, a ponto de quase chamá-los de “preguiçosos vagabundos”. Um presbítero sentou-se ao meu lado quase em desespero e fez um gesto perguntando o que estava acontecendo. A coisa beirava a ofensa.

Tive que interferir. Fui à frente, abracei a quem falava e tomei a palavra. Mostrei que aquele ministério era maravilhoso porque por trás de todos os que atuavam diretamente nele estavam aqueles que não apareciam: o pessoal da limpeza dos banheiros - que ficava num estado deplorável depois do banho nos mendigos; o grupo que recolhia roupas usadas para doar; as famílias que doavam alimentos para o sopão; as cozinheiras que voluntariamente o faziam na cozinha da igreja; os irmãos que ofertavam para a manutenção do ministério e dos recursos do prédio; os irmãos da intercessão que não esqueciam daquele trabalho, etc.

Depois apontei para a janela do berçário e perguntei ao irmão a quem estava abraçado:

-  Irmão, sabe o que tem atrás daquela janela? Irmãs que cuidam dos bebês das famílias da igreja durante os cultos. Dão mamadeiras, cantam, fazem eles dormir e limpam o bumbum deles trocando suas fraldinhas. Elas não participam do louvor, não ouvem a Palavra, não sabem o que ocorre neste culto, por que? Porque, por amar a Jesus servem com amor a igreja em sua necessidade. Isso é ministério.

Então perguntei:

- Você gostaria de fazer aquele trabalho? Você tem esse chamado? Sente desejo de servir neste ministério?

Ele rindo, negou-se. Então eu arrematei:

-  Cada um deve fazer o melhor naquilo para o que foi chamado. Aqui não desprezamos o ministério de ninguém, pois se todos fizessem a mesma coisa, não haveria igreja nem missão.

Essa tendência de valorizar o seu ministério e desprezar o do outro é tão infantil, carnal e diabólico quanto aquele que despreza sua própria identidade tentando ser e fazer o que não foi chamado. Cuide do equilíbrio; não caia nestas valas. Ande pelo caminha alto.

Perdão por desprezar a minha família!
Ao redor daqueles meus quatorze anos eu tinha um amigo. Éramos muito próximos de sorte que frequentei muito sua casa. Ele tinha uma família aparentemente muito equilibrada e bela. Eles pareciam alegres, tinham uma casa bonita, um apartamento na praia do qual usufruí algumas vezes, enfim, lembro que cheguei até desejar ter uma família daquele jeito. Após um tempo, veio à tona a verdade. O pai de meu amigo arrumou uma amante. A mãe dele, ao descobrir, deprimiu-se, e, talvez para despistar a dor da traição, começou a dizer que a atitude do marido era normal nos homens... Sofri com eles aquela dor mais do que eles imaginam.  Depois, como resultado, entendi que havia sido injusto com minha família. Imediatamente dei graças a Deus por ela, por suas características únicas. Tínhamos provações e lutas, mas, também tínhamos vida e amor.

Da mesma forma, quando vemos as propostas, propósitos ou o “sucesso” de outra igreja ou comunidade cristã, tendemos à compará-la com a nossa e perguntamos a nós mesmos: “o que será que está errado?”. Esquecemos que não é para as outras igrejas que devemos olhar, mas sim, para Jesus. Se assim o fizermos nossos erros serão corrigidos e vamos cumprir com liberdade e alegria nossa missão. Não quero imitar outros com o custo de desprezar o que sou e tudo o que, especialmente, recebi de Deus. Claro que posso e devo aprender com a experiência de outros, mas preciso ser o que Deus me deu para ser, melhor e sempre, não é?

Quero desafiar você que está nesta parte do Corpo de Cristo a amar e se alegrar com esta igreja, a se compromissar com esta família de Deus, a Igreja Cristã da Família – Campo Belo, a aprender com os erros, contribuir para a edificação, e praticar as virtudes que o Senhor já nos concedeu como parte de seu Corpo a fim de que seja mais saudável.

Faça um teste de saúde espiritual e veja se você pode dizer em alta voz, de coração: “eu amo minha igreja!”. Se não puder dizer isto, veja se você não tem estado muito tempo no espelho tentando mudar o penteado...

domingo, 19 de agosto de 2012

AS MULHERES NOS MINISTÉRIOS


AS MULHERES NOS MINISTÉRIOS

Joubert de O. Sobº


Salvo algumas exceções, as culturas mais antigas sempre colocaram as mulheres em segundo plano. A história nos mostra esta realidade ao longo dos séculos. Ainda hoje, em algumas culturas, as mulheres são consideradas como uma propriedade do homem, podendo ser negociadas por dinheiro ou outros valores. Em alguns países as mulheres são obrigadas a se submeterem aos processos de deformação física objetivando mudanças estéticas em partes de seu corpo, tais como pescoço, pés, etc., outras, ainda na adolescência, passam obrigatoriamente por rituais cirúrgicos que mutilam seus corpos na intimidade marcando-as por toda a vida.
           
Em resposta, alguns movimentos de mulheres passaram a opor-se a tudo o que consideram opressão masculina, lutando por libertação e por igualdade de direitos. Esta revolta gerou o movimento feminista que propõe a reversão da sociedade masculina pela feminina, buscando vingar todo o sofrimento da mulher nos séculos.
           
Sem dúvida as igrejas refletiram, no trato com as mulheres, as culturas onde estavam inseridas. Algumas igrejas colocaram as mulheres como expectadoras dos acontecimentos e ações, não permitindo nenhuma participação ativa. Outras passaram a exigir da mulher condutas rígidas, não aplicáveis na mesma proporção aos homens. A fim de contrariar os abusos sofridos, algumas igrejas partiram para outro extremo, conduzindo a mulher às funções não previstas no ensino bíblico.
           
A Bíblia nos esclarece o papel da mulher, quer na sociedade, na família, na igreja, quer no reino de Deus. A visão bíblica equilibra as tendências da sociedade, não desprezando a mulher nem a colocando sob responsabilidade que não lhe foi requerida. Cabe-nos descortinar o valor, a honra e o respeito devido à mulher, conforme o próprio Senhor Jesus o fez, por vezes contrariando a cultura judaica, para permitir à mulher a livre participação na salvação, na responsabilidade de evangelização do mundo e no cumprimento de seu papel, o qual não pode jamais, por impossibilidade ou incompatibilidade, ser ocupado pelo homem.

A MULHER NA CRIAÇÃO

A mulher foi criada no propósito de complementar o homem e desfazer os males de sua solidão, Gn.2.18. O homem não seria completo sem a mulher e sua presença foi fundamental para a felicidade de ambos oriunda da comunhão em oposição à solidão que não era boa. Nessa condição a mulher estaria com o homem no governo da criação, participando plenamente das ações e da responsabilidade do homem, Gn.1.28.
           
Após a queda no pecado uma das consequências em relação à mulher foi a necessidade dela estar sob a cobertura espiritual, governo e domínio do homem, Gn.3.16. Certamente esta posição foi devido a razões espirituais, como forma de preservação da mulher, como se entende em 1Co.11.3-10. Entende-se que, sem esta cobertura, a mulher estaria em piores condições. Por outro lado ela passou, necessariamente, a estar sob a tutela do homem, agora, contaminado com o vírus do pecado e à mercê da corrupção física, moral e espiritual, distante de Deus e de seu propósito. Daí os abusos da história, já referidos.
           
Uma vez que Jesus veio restaurar a comunhão da humanidade com Deus, entende-se que a mulher deve, em Cristo, assumir uma nova posição no reino de Deus, diferente da posição opressiva que as culturas e as sociedades impuseram, porém numa função determinada pelas escrituras, 1Co.11.3, sem desprezo por sua posição. A mulher possui a sua própria excelência, uma excelência distinta da do homem.

A MULHER NO ANTIGO TESTAMENTO

A sociedade judaica, culturalmente, sempre foi androcêntrica, isto é, centrada no homem. Os valores sociais eram voltados para o homem estando a mulher sempre colocada em segundo plano. No entanto, ao receber a Lei percebe-se que as orientações de Deus não excluem as mulheres. Apesar da tendência cultural, a mulher participa da Aliança com Deus possuindo também seus direitos. As mulheres de Israel deveriam:
·       guardar a Lei, Dt.17.2-5; 29.18-21; 31.12-13;
·       oferecer sacrifícios e ofertas, Lv.12.6; 15.29; Jz.13.15ss; 1Sm1.24ss;
·       oferecer orações e votos, Gn.22.22; 16.17;Jz.13.3; 1Re.14.1;
·       participar do culto através dos cânticos e danças no santuário; 1Sm.1;2Re.4.23.

Ao longo da História do povo de Israel vê-se que a mulher circunstancialmente ocupou espaço de liderança, interferindo em situações específicas, sendo utilizadas por Deus de forma especial para o benefício de seu povo, vide os casos de Mirian, Ex.15.20,21, Débora, Jz.4.4-7, Ulda, 2Re.22.14-20, Abigail, Ester, Rute, etc.

Por fim as escrituras nos apresentam o ideal de mulher no Antigo Testamento. Essa mulher descrita em Provérbios, cap. 31, não corresponde à imagem da mulher explorada, desprezada, abusada, negociada por valores quaisquer. Ela é uma mulher ativa, responsável e muito amada por seu esposo.

A MULHER NO NOVO TESTAMENTO

Nos tempos do Novo Testamento a situação da mulher tornou-se pior. Os líderes judaicos, ao interpretar a Lei, tornaram lei as suas interpretações. O Talmude, que traz as tradições, costumes e doutrinas do povo hebreu é um grande exemplo. Nele estão relatados tendências do pensamento da época em relação à mulher, tais como sua inferioridade geral em relação ao homem. Considerava-se impossível que uma mulher absorvesse qualquer verdade mais profunda. Alguns rabinos chegaram a duvidar de que as mulheres tivessem alma. Citações tais como: “Quem ensina a Torá à sua filha é como se lhe ensinasse obscenidades”, ou, ”É preferível queimar a Torá do que ensiná-la a uma mulher”, demonstram o problema.

O Talmude dizia: “Não converse muito com mulheres pois isto vai levá-lo finalmente a comprometer sua castidade”, então os homens evitavam falar com mulheres em público, até mesmo com suas esposas. Nestes tempos, ao contrário das orientações do AT, as mulheres não podiam participar ativamente de qualquer culto nas sinagogas. Apenas poderiam estar presentes, passivamente, no lugar reservado a elas, geralmente uma galeria, o que garantia a separação dos sexos. Conclui-se diante disto que a posição e o status da mulher declinou muito em relação ao AT, e é justamente neste ambiente em que Jesus se manifesta.

JESUS E AS MULHERES

            Em Jesus e no cristianismo a dignidade da mulher foi redescoberta e seu valor reconhecido. Os valores do casamento, sua santidade e significação foram exaltados como nunca antes. Jesus não considera nem trata as mulheres como objeto, mas como pessoas. Ele demonstra que o valor intrínseco das mulheres como pessoas é igual ao dos homens. Através de seu ensino e, sobretudo pela prática, Jesus contrariou a severidade judaica em relação à subordinação das mulheres, passando a tratá-las de um modo radicalmente diferente indicado nas seguintes ocasiões:

·       Mt.5.28 - “...qualquer que olhar para uma mulher com intenção impura, no coração já adulterou com ela” – Para os judeus, qualquer tipo de contato social com as mulheres poderia trazer o desejo sexual incontrolável, inevitável e irresistível (isto porque, para eles, a mulher tinha a função principal de parceria sexual, tanto que os homens quase sempre eram considerados inocentes quando seduzidos por mulheres perversas). A mulher era considerada como um perigo constante, um objeto capaz de despertar desejos no homem, por isto o removê-la o máximo possível dos olhares públicos, segregando-as por fim. Isto é, as mulheres pagavam pela impureza do coração dos homens. Jesus contraria a ideia de que o desejo é inevitável. O que deve ser vencida é a impureza. Portanto, Jesus aceita mulheres no convívio com o grupo de discípulos porque espera que seus discípulos controlem seus desejos.
·       Mc.10.12 – “...se ela repudiar seu marido e casar... comete adultério” – Para os judeus, cometer adultério contra a mulher era um conceito pouco comum. Jesus contraria a ideia da mulher como um objeto que pode ser abandonado segundo a vontade do homem. Pelo contrário, tanto o marido quanto a mulher são responsáveis pela união ordenada por Deus, Mt.19.4-9; 5.31,32; Lc.16.18.
·       Lc.13.16 – “...filha de Abraão” – Para enfatizar que um homem era membro da comunidade da aliança usava-se especialmente o título “filho de Abraão”. As mulheres não eram consideradas cidadãs da nação, mas parece que Jesus usou o título para contrariar o desprezo dos presente por aquela mulher doente e destacar o valor que Ele e Deus lhe davam.
·       Lc.7.39 – “...a mulher que lhe tocou...é pecadora” – Além de tocar em mulheres ou tomá-las pela mão, Lc.13.15; Mc.1.31, permitiu que mulheres o tocassem, até mesmo as que eram reconhecidas como imorais. Ele não passou por rituais de purificação como era exigido por lei em alguns casos. Ele demonstrava ser possível homens e mulheres conviverem como seres humanos sem concupiscência.
·       Mulheres nas parábolas – Jesus usou muito a mulher para ensinar através de parábolas, ao contrário dos rabinos que evitavam até mesmo fazer menção delas. Falou sobre o fermento para fazer pão, sobre o parto, o moer de cereais, donas de casa, viúvas, convidados de um casamento, etc. Com elas ilustrou temas tais como: vigilância, perseverança na oração, misericórdia e alegria de Deus com a salvação do perdido, etc., demonstrando que eram parte integrante da ação salvadora de Deus e valorosas em si mesmas.
·       Lc.11.27,28 – As opiniões das mulheres raramente eram consideradas no judaísmo, mas o fato de, neste texto, Jesus considerar, comentar, demonstra que se importava com o pensamento daquela mulher.
·       Lc.8.1-3; Mt.27.55,56; Mc.15.41 – Enquanto os rabinos evitavam a companhia de mulheres - até mesmo as que contribuíam com seu sustento, Lc.20.47 – Jesus era acompanhado por muitas mulheres que o serviam com seus bens.
·       Conversas teológicas com mulheres – A Samaritana, Jo.4.26 – Enquanto que os líderes judaicos estavam sempre questionando a Jesus querendo que Ele se revelasse, Jesus contraria o costume e conversa com uma mulher samaritana em público, revela seu pecado com franqueza, ensina-a e declara a ela, sem rodeios, ser Ele o Messias, para espanto dos discípulos. A siro-fenícia, Mt.15.21-28; Mc.7.24-39 – Jesus conversa com ela e desperta seu entendimento e fé. Maria e Marta, Lc.10.38-42; Jo.11.20-33 – Maria foi sua aluna, Marta também (fez a confissão semelhante à de Pedro), o que era um despropósito e uma vergonha para os rabinos. Jesus Ungido, Mt.26.6-13; Mc.14.3-9; Jo.12.1-8 – Jesus repreendeu a falta de entendimento espiritual dos discípulos expressando que Maria de Betânia estava compreendendo o que fazia na realidade.
·       Na paixão e na Ressurreição – As mulheres o acompanharam em todo o tempo de sua morte e foram as primeiras a testemunharem de sua ressurreição, apesar de serem desdenhadas, Lc.23.9; Jo.20.2,18; Lc.24.10-11. Os discípulos foram repreendidos por sua incredulidade pois não creram nas palavras das mulheres, Mc.16.14.

AS MULHERES NA IGREJA

            Carregando sobre si a herança de distância da instrução religiosa, da restrição à participação ativa nos cultos e das práticas religiosas pagãs, a mulher, tanto judia quanto gentia, se achega à igreja. Passagens como 1Co 14.33-35 e 1Tm 2.8-15 passaram a exercer uma força limitante à ação da mulher na igreja por sua interpretação isenta de análise acurada do texto e da circunstância cultural vigente na época. Portanto analisemos cada passagem no seu texto, contexto e história.

1.    Considerações sobre 1Co.14.33-35“...As mulheres estejam caladas nas igrejas; porque lhes não é permitido falar; mas estejam sujeitas, como também ordena a lei. E, se querem aprender alguma coisa, interroguem em casa a seus maridos; porque é indecente que as mulheres falem na igreja”

·       Não podemos concluir que Paulo esteja dando uma ordem absoluta de silêncio total para todas as mulheres em todas as igrejas. Se assim fosse estaria em contradição com suas próprias orientações de 1Co 11.5,13 sobre como as mulheres deveriam orar e profetizar em público. Se esta proibição fosse absoluta as mulheres não poderiam orar, nem profetizar em nenhuma igreja, At 2.17; 21.9.
·       A palavra “mulheres” mencionada nestes versículos é do grego gune que significa “uma esposa”, portanto são instruções para esposas.
·       A palavra “falar” usada por Paulo em “...não é permitido falar...” é laleo que significa: uma arenga prolongada ou casual; gabar-se; bradar (gritar a alguém do outro lado da sala, p. ex.) sem um decoro ou respeito apropriado para com os outros.
·       A palavra “ordena”, em contraposição à laleo em “...como também ordena a lei...”, é o mesmo que a palavra “diz” do grego lego, que significa: dispor (uma idéia ou doutrina) em palavras que geralmente são de um discurso sistemático ou estabelecido.
·       Paulo queria evitar a todo o custo que a confusão, a indecência e a desordem estivessem presentes no culto dos coríntios, 1Co.14.33,40. Muitas das mulheres recém-convertidas tinham vindo dos cultos pagãos onde a bebedice e até mesmo prática de orgias sexuais eram consideradas formas de culto aos deuses. Paulo apelava ao autocontrole e decoro total destas mulheres sem instrução que, para aprender, deveriam parar de gritar desrespeitosamente nos cultos e serem pacientes em tirar suas dúvidas em casa com seus maridos. Na carta aos Coríntios vemos Paulo orientando sobre os comportamentos mais básicos, demonstrando que eles eram carentes de padrões de relacionamento entre si e com Deus.

2.    Considerações sobre 1Tm.2.8-15“...A mulher aprenda em silêncio, com toda a sujeição. Não permito, porém, que a mulher ensine, nem use de autoridade sobre o marido, mas que esteja em silêncio...”

·       Paulo trata neste texto do comportamento e papel do homem e da mulher no culto público, novamente preocupado com os aspectos da decência e ordem, v.8-10.
·       A palavra grega para “silêncio”, hesuchia, pode também significar “tranquilidade”, tal como traduzida em 1Tm.2.2 e 2Ts.3.12. A palavra grega para “aprender”, manthaneto, tem o sentido de “aprender através de perguntas”, o que mudaria o sentido proibitivo: “...a mulher aprenda fazendo perguntas com tranquilidade, com toda a sujeição...”, uma atitude de aprendizes, alunas. Vale lembrar que tanto no mundo greco-romano quanto no judaísmo as mulheres normalmente não recebiam instrução. De modo que a ênfase de Paulo recai na aprendizagem das mulheres, contrariando as culturas mencionadas.
·       A igreja de Éfeso havia sofrido uma invasão de doutrinas errôneas e ensinos heréticos que ameaçaram sua vida. Paulo, então, toma firmes medidas necessárias para corrigir a situação. Estas medidas consistiam em remover e restringir todos os mestres sem qualificação - certamente havia mulheres neste grupo - 1Tm 1.3,7; 6.3-5; Tt 1.10,11 e adotar o ensino vigoroso e saudável, 1Tm 4.11; 2Tm 2.25; 4.2; Tt 2.1, à pessoas confiáveis, homens e mulheres, que receberiam instrução a fim de instruir a outras pessoas, 2Tm 2.2; Tt 2.1-5.
·       A palavra “ensinar” do grego, significa “instruir ou ensinar doutrina”. Na situação de ataques heréticos a que foram alvos, era necessário estabelecer verdadeiras doutrinas e extirpar as falsas. Esta função pertencia ao Conselho Apostólico e não às mulheres, At.15.1-35.
·       As mulheres tornaram-se alvos principais das influências heréticas, estando mal aparelhadas e despreparadas para ensinar, uma vez que não possuíam instrução como os homens, nem estavam treinadas para discernir a verdade. Por esta razão Paulo insiste que elas aprendam, possivelmente dando a entender que, naquele momento (restrição temporária e local, e não absoluta), enquanto não estivessem aptas, ele não dá permissão às mulheres para ensinar. Caso o fizessem cairiam no mesmo erro de Eva, que foi enganada e procurou ensinar a Adão algo que ela mesma não compreendia. Para saírem desta situação, deveriam aprender e alcançar a maturidade.
·       Quanto à ordem de não exercer autoridade sobre o homem (marido), Paulo usa uma palavra forte que não se repete mais no Novo Testamento, authontein, que significa “exercer domínio sobre alguém em proveito próprio”. Paulo está proibindo as mulheres de controlar os homens (maridos). Jesus proibiu esse comportamento aos discípulos, Mt.20.25,26, bem como o próprio Paulo, 2Co.1.24. Um genuíno cristão não pode ser uma pessoa dominadora, seja homem ou mulher. No caso, a mulher não deveria usurpar, apossar-se indevida e violentamente de uma responsabilidade que cabe ao homem (marido).
·       Paulo não estaria fazendo uma proibição permanente e universal às mulheres em relação ao ensino por causa de sua “natureza facilmente suscetível ao engano, inclinada à fraude” pelas seguintes razões:
a) as mulheres têm permissão para ensinar crianças e outras mulheres, 2Tm.1.5; 3.14; 2.3-5. Se a ideia da frágil natureza fosse argumento, ela não poderia nem mesmo participar do magistério, que é um período importantíssimo na formação do indivíduo;
b) ele mesmo instrui e exorta em suas epístolas que os crentes de modo geral, homens e mulheres, devem ensinar uns aos outros, Cl 1.28; 3.16; Rm 15.14; 1Co.1.5; 14.26; Ef 5.19; 2Tm 2.2. Não fosse assim, nenhuma destas passagens poderiam ser aplicadas às mulheres;
c) Paulo trabalhou livremente com muitas mulheres, algumas descritas como “cooperadoras no evangelho”;
d) as mulheres profetizavam, o que no Novo Testamento, possui um status maior que o do ensino, quanto à função, 1Co 11.5.

3.    Considerações sobre a sujeição à “cabeça”, Ef 5.21-24“Sujeitando-vos uns aos outros no temor de Deus. Vós mulheres, sujeitai-vos a vossos maridos, como ao Senhor; porque o marido é a cabeça da mulher, como também Cristo é a cabeça da igreja: sendo ele próprio o salvador do corpo. De sorte que, assim como a igreja está sujeita a Cristo, assim também as mulheres sejam em tudo sujeitas a vossos maridos.”

3.1 - A Questão da submissão

·       A palavra “submissão” usada por Paulo significa uma “atitude voluntária de doação, cooperação; ato de assumir responsabilidade, ou assumir determinado ônus, peso ou fardo”. Significa, também, “honrar e respeitar outra pessoa, preferir outro a nós mesmos”. Refere-se à uma ação voluntária de consideração e respeito a outros isenta de imposição, força ou coação. Esta descrição nos mostra mais uma expressão do amor divino do que sujeição à uma autoridade a quem se deve obediência cega.
·       O verso 21 de Efésios 5 está intimamente ligado ao 22 devido ao fato de, no texto grego, o v.22 não possuir nenhum verbo. O leitor grego consideraria  então o verbo do verso anterior. Isto indica que o ensino que Paulo dá a respeito de marido e mulher começa no v.21 e não no 22, mostrando que o assunto é a mútua submissão, expressão do amor (v.25), que busca o interesse do outro antes do seu próprio.
·       Embora hoje se tenha a ideia de que o marido deve dominar e a mulher se submeter, devemos entender que amor e submissão são indissociáveis. Não se consegue amar sem dar preferência ao que se ama. Justamente o ato de glória do amor é a renúncia voluntária dos desejos e interesses próprios, 1 Co.13.5; Jo.12.24. Se a mulher ama, então se submete, considera, cede e serve ao esposo. Da mesma sorte, se o marido ama - como é seu dever, enfatizado no v.25 – então, se submete, considera, cede e serve a esposa também. É a submissão mútua referida no v.21. Em 1Pe.3.1-7, o apóstolo menciona da mesma maneira a necessidade de submissão das mulheres aos maridos apresentando o modelo de Sara que se submeteu, isto é, honrou, considerou  e respeitou à Abraão, dedicando-se voluntariamente aos seus interesses antes dos seus. Sabemos, no entanto que Abraão também se “submeteu”, quando considerou e cedeu aos interesses e desejos de Sara, Gn.21.11,12, atitude indicada no v.7 de 1Pedro 3 (“Igualmente” = da mesma maneira). Afinal, ambos são “co-herdeiros da graça da vida”.
·       Outro entendimento da palavra “submissão” é a daquele(a) que está debaixo da mesma “missão” do outro. A “missão” do marido é considerar, amar e dedicar-se voluntariamente à vontade de Deus. Sua esposa deve então estar debaixo desta mesma missão, submissa com ele.
·       Jesus é nosso maior modelo de submissão, amando-nos tornando-se servo, Jo.13.1-17, esperando que façamos como Ele fez, v.15. Ele espera que amemos uns aos outros como Ele nos amou, v.34, servindo. Ter uma atitude de servo para com os irmãos não condiz com a atitude de domínio que muitos têm para com suas esposas.

3.2 - A Questão da metáfora “cabeça”

·       Muitos entendem que ser cabeça é exercer a chefia, a soberania de uma posição ou autoridade superior, interpretação, esta, aceitável na língua portuguesa. Porém, devemos lembrar que Paulo escrevia em grego aos que possuíam pensamento grego. Na cultura grega, pensava-se que o coração fosse o órgão de domínio. Nele estavam a sede da vontade, das decisões, das emoções, etc. A cabeça, no entanto, tinha o papel de servir ao corpo concedendo-lhe vida, uma vez que o sentido figurado de cabeça, kephale, seria “nascente” ou “fonte de vida”.  Esta é a ideia que a palavra comunica em 1Co.11.3 e Ef.5.23. Várias ideias são relacionadas à “cabeça”, tais como: fonte, origem, coroa, preenchimento, soma, total. Assim ela seria entendida no grego secular no tempo de Paulo, mas nunca como autoridade ou posição superior.
·       Desta forma, Jesus é cabeça da igreja, Ef.1.22,23, como aquele que provê plenitude para o corpo, figura utilizada para demonstrar que Ele inclui a igreja na sua autoridade, v.20 e 21, e não que ela está debaixo de sua autoridade, ainda que esteja, mas não é o objetivo da metáfora. Em Ef.4.15,16 e Cl.2.19, da mesma maneira. A ideia é daquele que provê o necessário para o crescimento, nutrição, edificação do corpo, como fonte de vida que traz ao corpo capacidade de crescimento em amor. Em Ef.5.22-33, cabeça, comunica ideia de nutrição, de que a autoridade de Jesus é comparável ao seu amor, desvelo e nutrição para com a igreja. Cl.1.15-20, nos dá a ideia de origem, começo da própria igreja, bem como 1Co.11.3 apresenta a origem, base, derivação de Cristo, do homem e da mulher.
·       O homem neste contexto é aquele que é a origem da vida da mulher na criação, quanto a ser instrumento para esta finalidade, Gn.2.21; não esquecendo que Cristo é o primogênito de toda a criação. 
·       No relacionamento marido e mulher, Ef.5.21-33, o marido, como cabeça é o que provê para sua esposa o sustento, alimento, apoio, vinculação consanguínea, amor, cuidado e crescimento, semelhantemente à Jesus que é fonte de vida da igreja de maneira criacional, nutritiva, amorosa e sustentatória. Jesus amou dando a vida. Esta é a “chefia”, a autoridade de Jesus sobre a Igreja: seu auto-sacrifício amoroso, que paga o preço para redimir. Aqui, a metáfora do corpo também é utilizada como ideia de reciprocidade, onde a mulher, como o corpo, recebe e dá amor de maneira semelhante, auto-sacrificial, submetendo-se voluntariamente à parceria de doação e recepção.
·       Esta metáfora distancia-se da questão da autoridade, soberania ou posição de chefia, exaltando a questão da união entre cabeça e corpo em relação harmoniosa. A exemplo do Pai em relação ao Filho, vemos o Filho submetendo-se ao Pai em amor voluntário, como fonte de vida e origem e não como chefia, patrão ou soberano distante.

CONSIDERAÇÕES

Temos descrições na Bíblia de atuações relevantes das mulheres em várias áreas e ministérios fundamentais no reino de Deus. A título de exemplo destacamos abaixo apenas algumas ações de mulheres mencionadas nas Escrituras.

Diaconisa
Em Rm 16, o apóstolo Paulo faz uma lista especial, chamada pelos comentaristas bíblicos de “galeria dos crentes do Novo Testamento” em comparação à “galeria do Antigo Testamento” descrita em Hb 11. Dos nomes desta lista histórica, um terço é de mulheres, a revelar o lugar proeminente que elas ocupavam na igreja de Roma. Paulo foi pioneiro no reconhecimento da função das mulheres no serviço cristão.

Paulo encabeça a lista dando testemunho de Febe (v. 1,2) conferindo-lhe grande honra. “É apresentada como irmã, isto é, da família espiritual do Senhor, sugerindo igualdade de privilégios na irmandade, como serva da igreja em Cencréia, isto é, diaconisa (cfr. Fp 1.1), e como protetora (gr. prostatis «patrocinadora; mulher colocada sobre outras»), a implicar que era uma senhora de recursos, que trabalhara no meio da população das docas, no porto de Corinto. Acredita-se que Febe estava de viagem para Roma e Paulo confiou aos seus cuidados esta preciosa epístola, para que a fizesse chegar com segurança ao seu destino” (Novo Comentário da Bíblia – Vida Nova).

Profetas
Há várias menções na Bíblia: Miriã, ex 15.20; Hulda, 2Re 22.14; Débora, Jz 4.4 e a esposa de Isaías, Is 8.3. No Novo Testamento havia mulheres que profetizavam: as filhas de Ágabo, At 21.9; mulheres na igreja de Corinto, 1Co 11.5; a promessa de Joel cumprida em At 2.18.

Mestras
Em Tt 2.3,4, Paulo orienta que as mulheres mais idosas devem cumprir um ministério de ensino entre as mulheres mais jovens. Priscila e seu marido, Áquila, ensinaram Apolo, At 18.24-26.

Evangelistas
Se considerarmos a prática e não a função eclesiástica, a mulher samaritana cumpriu um papel de evangelista ao atrair seus vizinhos a Jesus, Jo 4.28-30,40-42.

Enfim, sabemos que no Novo Testamento, Jesus nos deixou apenas princípios sobre a constituição da igreja, mas não nos apresentou um modelo detalhado de sua formação, como o apresentado por Deus a Moisés no Antigo Testamento. Portanto, cada igreja, ao estruturar sua organização deve procurar aplicar para si critérios que respeitem os princípios evidentes nas Escrituras em relação às mulheres e seu serviço fundamental a Deus, em seu reino e na Igreja.